Comparando psychache, depressão e desesperança em suas associações com o suicídio: um teste da teoria do suicídio de Shneidman
Troister, T., & Holden, R. R. (2010). Comparing psychache, depression, and hopelessness in their associations with suicidality: A test of Shneidman’s theory of suicide. Personality and Individual Differences, 49(7), 689-693. doi: 10.1016/j.paid.2010.06.006
Resenhado por Maísa Carvalho
O suicídio é um problema de saúde pública
que é responsável, anualmente, por 800 mil mortes. Em 2016, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde, foi a segunda causa de morte entre jovens de 15 a
29 anos. Ainda repleto de muitos tabus, sua complexidade reside em suas
variadas causas, dentre elas a depressão e a desesperança, comumente associadas
ao autoextermínio. Assim como essas variáveis, apenas a detecção ou a
combinação de fatores não é o suficiente para predizer ou prevenir o suicídio e
seus outros contextos – ideação, planejamento e tentativas. Pensando nisso,
Shneidman (1993) propôs uma teoria sobre o suicídio que apontava a psychache,
ou dor psicológica, definida como uma dor ou angústia da mente, sendo uma
condição necessária para a ocorrência desse fenômeno, sendo os outros fatores
secundários, a exemplo da depressão e da desesperança. Logo, o presente estudo
objetivou identificar se a dor psicológica pode predizer o suicídio além dos
efeitos da depressão e da desesperança em universitários.
O estudo obteve uma amostra de 475
universitários, com idades entre 16 e 45 anos (M = 18,3; DP = 2,09),
sendo 71% de mulheres. Foi requisitado aos participantes que respondessem sobre
características sociodemográficas (sexo e gênero) e que indicassem se já tinham
tentado suicídio e, em caso positivo, quando, como e quantas vezes tentaram ao
longo da vida. Ademais, que também respondessem alguns questionários. Foram
utilizadas as escalas de Beck de suicídio (The Beck Scale for Suicidal
Ideation - BSS), depressão (The Beck Depression Inventory – BDI-II)
e desesperança (The Beck Hopelessness Scale - BHS), além da Escala de
dor psicológica (The Psychache Scale).
Os resultados apontaram que 2,5% (n = 35)
já tentaram suicídio, sendo a intoxicação por medicamentos o método mais
utilizado (44,1%), seguido do cutting ou automutilação (26,5%). Os que
tentaram suicídio relataram uma média de 41,39 meses (DP = 34,04; Variação
= 2 a 168) desde a tentativa mais recente, e um nível moderado a alto de
intenção de suicídio no momento da tentativa (M = 3,1; DP = 1,22)
em uma escala de avaliação de cinco pontos. O número de tentativas ao longo da
vida variou de 1 a 11 (M = 1,6; DP = 1,78). Em relação à hipótese
principal, os achados corroboraram as ideias de que a psychache está
relacionada significativamente com o suicídio, bem como é o fator mais
fortemente associado a qualquer contexto do fenômeno.
A teoria proposta por Shneidman sustenta a
relevância da dor psicológica como uma variável reconhecida nos contextos que
envolvem o suicídio, mas que recebe menos importância em detrimento dos outros
fatores comumente atrelados ao fenômeno. Assim, é relevante a produção de
estudos em Psicologia da Saúde que explorem mais a dor psicológica
isoladamente, de forma a compreender o comportamento dessa variável em suas
relações com o suicídio e seus contextos.
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