Associação entre doenças psiquiátricas e mortalidade em pacientes com COVID-19
Nemani, K., Chexiang, L., &
Olfson, M. Association of psychiatric disorders with mortality among patients with
COVID-19. (2021).
JAMA Psychiatry 78(4), 380-386. https://doi.org.10.1001/jamapsychiatry.2020.4442
Resenhado por Danielle Alves Menezes
Idade avançada, sexo
masculino, doenças cardiovasculares, diabetes, status socioeconômico e raça são
fatores comumente associados a um maior risco para infecção por corona vírus.
Aspectos psiquiátricos já foram avaliados em estudos anteriores e identificados
como fatores de risco potenciais, porém as evidências encontradas são limitadas
até o momento. O presente estudo buscou contribuir para o maior esclarecimento
dessa questão ao analisar especificamente a relação entre transtornos
psiquiátricos e mortalidade em pacientes adultos com COVID-19.
Para isso, os
pesquisadores realizaram um estudo de coorte retrospectivo, a partir de
prontuários de pacientes adultos, com idade a partir de dezoito anos e que
realizaram testes para COVID-19 entre março e maio de 2020 em Nova Iorque (t = 31044). Dentre estes, 7348 foram positivados
para COVID em testes de análise de amostra de nasofaringe, faringe e escarro
(27,7% do total de testados; 47,0% homens; idade média 54). Nesses prontuários,
foram coletados dados sobre sintomas psiquiátricos, os quais foram
posteriormente categorizados em grupos diagnósticos: (1) transtornos do
espectro da esquizofrenia, (2) transtornos de humor e (3) transtornos de
ansiedade, com base no CID-10 (Classificação Internacional de Doenças). O grupo
de referência foi composto por pacientes diagnosticados com COVID-19 no mesmo
período, sem diagnóstico psiquiátrico, por pacientes com outros transtornos
mentais. Adicionalmente, foram feitas análises considerando grupos de pacientes
com sintomas psiquiátricos prévios à testagem para COVID-19 e grupos com relatos
de surgimento recente desses sintomas (entre janeiro e março de 2020). Mortalidade
foi definida como óbito ou alta para hospitais psiquiátricos. Os resultados
clínicos foram monitorados por 45 dias após o teste e incluíram dados até 15 de
julho de 2020.
Resultados descritivos
mostraram que 75 pacientes (1,0%) tinham histórico de doença do espectro da
esquizofrenia, 564 (7,7%) relataram histórico de transtorno de humor e 360
(4,9%) havia transtorno de ansiedade prévio. A probabilidade de um teste
positivo entre os grupos de diagnóstico foi de 22,3% para o grupo do espectro
da esquizofrenia, 25,4% para o grupo de transtorno de humor, 24,1% para o grupo
de transtorno de ansiedade e 28,2 % para o grupo de referência. Alto risco de
mortalidade foi associado aos diagnósticos do espectro da esquizofrenia,
ficando em segundo lugar atrás do fator idade, ajustados todos os fatores de
risco demográficos e médicos examinados na amostra. Indivíduos com transtornos
do espectro da esquizofrenia tiveram 2,7 vezes mais chances de morrer após o
ajuste para fatores de risco conhecidos. Além disso, demora na procura por
tratamento ou acesso reduzido aos cuidados podem ter contribuído para piores
resultados nesse grupo. Explicações adicionais para esse desfecho podem também
estar relacionadas a fatores biológicos, especificamente na hipótese de desregulação
imunológica em pessoas com esquizofrenia, tese apoiada em estudos anteriores.
Os resultados dessa
análise sugerem que o risco de doença grave ou fatal pode diferir de acordo com
o diagnóstico psiquiátrico. Apesar da necessidade de estudos que discutam esses
achados considerando as especificidades de cada país, determinar quais
pacientes podem estar em maior risco de resultados adversos é necessário para
orientar a tomada de decisão clínica. Essa tarefa também faz parte do escopo da
Psicologia da Saúde, campo de saber e pesquisa que pode contribuir para
monitoramento aprimorado da saúde mental da população e promover intervenções
direcionadas para esse problema
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