A interação entre estresse e afeto positivo na previsão de mortalidade

 

Okely, J. A., Weiss, A., & Gale, C. R. (2017). The interaction between stress and positive affect in predicting mortality. Journal of Psychosomatic Research, 100, 53-60. https://doi.org/10.1016/j.jpsychores.2017.07.005

Resenhado por Lucas Souza

 

Os afetos positivos são definidos como a experiência de emoções positivas como alegria, prazer e contentamento e podem ser entendidos como um componente do bem-estar psicológico. É sabido a presença em maior quantidade dos afetos positivos está relacionada com redução da mortalidade. A hipótese do amortecimento do estresse é a principal explicação para tal fenômeno: os indivíduos que vivenciam os afetos positivos em maior quantidade apresentariam uma redução dos níveis de estresse e, como maiores níveis de estresse estão relacionados com maior mortalidade, o risco de mortalidade sofreria uma redução.

            Esse estudo avaliou 8542 participantes com idade entre 32 e 86 anos que realizaram seguimento por ao menos 10 anos em dois estudos do tipo coorte realizados no Reino Unido. Para avaliar os afetos positivos e o estresse percebido foi utilizado o General Wellbeing Questionnaire (GWQ), gerando diferentes subescalas para cada variável. Foi utilizada a regressão de riscos proporcionais de Cox para avaliar a relação do estresse e afetos positivos na linha de base com a mortalidade em 10 anos. Para tal análise foram formulados três modelos, o primeiro foi ajustado para sexo e idade; o segundo ajustado para variáveis sociodemográficas (por exemplo, etnia, nível educacional e estado civil) e o terceiro ajustado para possíveis variáveis mediadoras como comportamentos em saúde, sono e índice de massa corpórea.

Os resultados mostraram uma relação entre afetos positivos e mortalidade. Também foi percebida a associação entre afetos positivos e menor estresse, bem como menor mortalidade naqueles com menor estresse. No modelo completo, os afetos positivos aumentaram em 16% o risco de mortalidade (OR = 0,84 IC 95% 0,75-0,95) em indivíduos com alto estresse. A associação entre afetos positivos e mortalidade foi fraca ou inexistente naqueles que reportaram baixos níveis de estresse. A presença de significância estatística somente naqueles indivíduos com maior estresse reforça a explicação de que os afetos positivos reduzem a mortalidade através de uma atenuação dos efeitos danosos do estresse psicológico na saúde. A avaliação da mediação dos comportamentos em saúde no modelo mostrou atenuação em 19% o impacto dos afetos positivos na mortalidade, mostrando que um possível mecanismo explicativo seja a adoção de hábitos saudáveis naqueles com maior presença de afetos positivos.

Esse estudo contribui com a psicologia da saúde porque testa empiricamente a hipótese da mediação entre afetos positivos e mortalidade pelo estresse, ratificando a importância do estresse para a saúde. A verificação do impacto dos afetos positivos na mortalidade é importante porque ela é um bom indicador da saúde de um modo geral, refletindo o somatório final de diversos indicadores em saúde. Estudos posteriores poderão investigar a relação dos afetos positivos com outros desfechos em saúde, ampliando a compreensão da importância dessa variável para a saúde.

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