A variável mediadora na pesquisa psicológica

 

Baron, R. M., & Kenny, D. A. (1986). The moderator–mediator variable distinction in social psychological research: Conceptual, strategic, and statistical considerations. Journal of Personality and Social Psychology51(6), 1173-1182. https://doi.org/10.1037/0022-3514.51.6.1173

Resenha feita por Luiz Guilherme L. Silva.

A mediação é um tipo de análise que representa o mecanismo gerador pelo qual uma variável independente (VI) é capaz de influenciar uma variável dependente (VD) por meio de uma variável mediadora (Med). Isso quer dizer que em uma relação entre três variáveis, a VI influencia, através da Med, a VD. Apesar de os estudos com variáveis mediadoras não serem recentes, alguns pesquisadores das ciências sociais e Psicologia usam os termos mediação e moderação de forma intercambiável. Entretanto, a moderação é uma variável que afeta a direção e/ou a força entre uma VI e uma VD. O objetivo do presente texto é sintetizar alguns achados acerca da variável mediadora para que possa facilitar o entendimento de futuros pesquisadores quanto à inferência causal na pesquisa psicológica.

A primeira vez que uma variável mediadora apareceu nas discussões em Psicologia foi no modelo S-O-R, demonstrando que um organismo intervém entre um estímulo e a produção de uma resposta. A ideia central desse modelo é que os estados internos do organismo (O) influenciam a elaboração de uma resposta (R) eliciada por um estímulo (S). Assim, é possível dizer que uma Med pode ser considerada como tal quando explica relação entre um preditor e um desfecho. Graficamente, a mediação é composta por um sistema tripartite, na qual existem duas setas que apontam para a VD (vide Figura 1): o impacto da VI na VD (seta c) e o impacto da Med na VD (seta b). Além dessas duas, há uma terceira que é responsável pela influência da VI na Med (seta a).

Para que uma variável seja considerada Med, é necessário atender a algumas condições: a variação na VI precisa explicar de modo significativo à variação na Med presumida; a variação na Med explica de modo significativo pela variação na VD e; quando a e b são controlados, a relação prévia entre VI e VD que era significante, perde a relevância estatística, com a maior demonstração de mediação sendo observada quando c = 0. Contudo, é necessário ressaltar que, em Psicologia, os fenômenos observados são multicausais e, diante desse fato, será mais realista procurar as Med que diminuam c em vez de eliminar totalmente a relação direta entre VI e VD. Pode ser observado, assim, que uma redução significativa demonstra que uma dada Med é potente, mesmo que o efeito de c não se reduza a 0.

Diversos pesquisadores da Psicologia encontram dificuldades para obter uma formação pautada na prática baseada em evidências. Um desses obstáculos é o despreparo para a leitura, interpretação e replicação de dados, visto que poucas graduações nesse campo fornecem cursos de estatística aplicada à Psicologia ou temas relacionados. Diante disso, muitos pesquisadores precisam aprender sozinhos. Para mitigar essa carência, é necessário que os departamentos de Psicologia insiram matérias relacionadas a essa temática a fim de suprir essa lacuna na formação de futuros psicólogos.



 

 

 

Figura 1. Exemplo de mediação.

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