Saúde mental positiva, afeto positivo e ideação suicida

 

Teismann, T., Brailovskaia, J., & Margraf, J. (2019). Positive mental health, positive affect and suicide ideation. International Journal of Clinical and Health Psychology, 19(2), 165–169. https://doi.org/10.1016/j.ijchp.2019.02.003

 

Resenhado por Luiz Fernando de Andrade Melo

 

A saúde mental positiva parece estar associada a altos níveis de bem-estar psicológico e assim oferecer estratégias resilientes para enfrentamento da ideação suicida. Há estudos, por exemplo, que demonstram a moderação entre a saúde mental positiva e fatores de risco para a ideação suicida e que ambos construtos existem simultaneamente em pacientes internados e ambulatoriais. Entretanto, os meios latentes entre a saúde mental positiva e a ideação suicida ainda são desconhecidos, exigindo o estudo de variáveis psicológicas que podem estar mediando a relação entre ambos.

O afeto positivo é uma das apostas como variável que moderaria tal relação, isso porque se visualiza que a saúde mental positiva pode ser representada por maiores níveis de afeto positivo cotidiano. Essa ideia parte do princípio que o construto auxiliaria no aumento da resiliência e da proximidade social nos indivíduos, corroborando com a broaden-and-build theory (Teoria Ampliar-e-Construir, em tradução livre). Consequentemente, pacientes com ideação suicida que experimentassem afetividade positiva teriam menores sintomas da ideação, assim como teria aumento na resolução de problemas relacionados. Assim, este estudo buscou entender se haveria mediação do afeto positivo entre saúde mental positiva e ideação suicida, inclusive, pela lacuna de pesquisas na literatura sobre o assunto.

Participaram do estudo 150 pacientes clínicos, sendo diagnosticados pela CID-10 com transtornos afetivos, transtornos neuróticos, relacionados ao estresse e somatoformes, e transtornos de personalidade. Empregou-se a Positive Mental Health Scale – PMH, composta por 9 itens numa escala de 3 pontos para medir os níveis de saúde mental positiva. A Suicide Ideation and Behavior Scale – SSEV-SI foi aplicada para medir a frequência de ideação suicida através de 4 itens, numa escala Likert de 6 pontos. A Positive and Negative Affect Schedule – PANAS também foi utilizada para que se medisse os afetos positivos e os afetos negativos em duas subescalas com 10 itens cada. Por fim, para análise foram feitas análises de correlação, regressões lineares.

Os resultados demonstraram que a saúde mental positiva e o afeto positivo estavam associados negativamente com a ideação suicida em diferentes modelos de regressão. Já o afeto negativo esteve correlacionado positivamente com a ideação suicida. Pela análise de mediação, visualizou-se que o afeto positivo mediou a relação entre saúde mental positiva e ideação suicida. Entretanto, o afeto negativo não demonstrou nenhum tipo de mediação com as variáveis analisadas. Com os dados obtidos visualizou-se que o afeto positivo pode acentuar o impacto da saúde mental positiva contra a ideação suicida. Em tratamentos clínicos pode se enfatizar a importância de experimentar e ativar o afeto positivo para redução da ideação e dos fatores de risco para o suicídio, bem como para produção de indicadores de saúde mental positiva. Ademais, induzir emoções positivas para pacientes com ideação suicida, por exemplo, pode ser um dos mecanismos para a experimentação do afeto na terapia.

O estudo demonstra sua importância no âmbito da Psicologia da Saúde pela possibilidade de intervenção na ideação suicida através do afeto positivo. Embora exista limitações como ser um estudo transversal, que não permite inferir causalidade, as implicações clínicas enaltecem a relevância da saúde mental positiva e de variáveis a ela relacionadas para tratamento de pacientes com comportamento suicida.

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