Autocompaixão e afetos positivos e negativos de estudantes de medicina durante a pandemia de COVID-19

 

de Franco Tobar, C., de Sousa Michels, M., & Franco, SC (2022). Self-compassion and Positive and Negative Affect in Medical Students during the Covid-19 PandemicJournal of Human Growth and Development32 (2), 339-350. https://doi.org/10.36311/jhgd.v32.11909

Resenhado por Maria Heloísa


Acadêmicos em medicina experimentam mais sintomas ansiosos e depressivos do que pessoas em geral e o cenário pandêmico gerou uma preocupação adicional com a saúde mental desses estudantes. Afetos positivos (AP) e negativos (AN) são construtos usados para mensurar a dimensão emocional dos indivíduos e são associados, respectivamente, ao agradável estado de entusiasmo e alerta e ao estado de medo, humor aversivo, nervosismo e raiva. Já a Autocompaixão (AC) é um fator que se relaciona com a regulação do estresse e a resiliência do indivíduo. O objetivo do estudo foi avaliar a reação emocional de estudantes de medicina durante a pandemia por meio dos afetos positivos, afetos negativos e da autocompaixão.

O estudo ocorreu online em maio de 2020 e possuiu caráter descritivo e exploratório. Estudantes de todos os semestres de medicina em uma universidade de Santa Catarina participaram da pesquisa, totalizando 580 pessoas, dentre as quais, 63,3% eram mulheres. Foi aplicado um questionário sociodemográfico, a Escala de Afetos Positivos e Negativos e a Escala de Autocompaixão, ambas com itens a serem respondidos em uma escala Likert. A análise de dados utilizou os métodos qui-quadrado, correlações de Pearson e cálculos de teste f para identificação de variâncias.

A pesquisa constatou que discentes com melhores índices de AC obtiveram também índices saudáveis de Afetos Positivos e Afetos Negativos. Com relação aos diferentes estágios ao longo do curso, foi observado que, desde os primeiros períodos, há baixos níveis de AP e altos níveis de AN. Nos semestres intermediários, há uma piora em relação ao AP, enquanto nos semestres finais, há uma melhora. Esse fator é corroborado com outras pesquisas que identificaram maior nível de depressão no período intermediário do curso. Foram identificadas diferenças de gênero, já que homens possuem maiores níveis de AP e AC, enquanto as mulheres possuem maiores níveis de AN, o que foi associado aos papéis sociais normas sociais de feminilidade e masculinidade. Ademais, mostrou-se que estudantes de medicina possuem maior prevalência de transtornos de humor e um menor nível de saúde emocional do que a população em geral. Além dessa vulnerabilidade, o grupo possui a média de AP menor do que a média populacional, e a de AN, maior do que a média da população. A religião pode ser um fator protetivo nesse cenário, dada a associação encontrada entre a prática religiosa e os AP.

Essa pesquisa possibilitou uma discussão sobre aspectos importantes da saúde emocional de estudantes de medicina e identificou que eles possuem piores índices de AP e AN em relação à população geral, o que pode gerar repercussões negativas na saúde dos alunos. Os achados direcionam a Psicologia à necessidade de continuar a investigar a saúde mental desses discentes e buscar ações de promoção de saúde em parceria com as universidades, a fim de amenizar as repercussões negativas observadas ao longo da pandemia.

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