Qual o impacto do processo eleitoral em nossa saúde mental?
Mukhopadhyay, S. (2022). Elections have (health) consequences: Depression, anxiety, and the 2020 presidential election. Economics and Human Biology, 47, 101191. Advance online publication. https://doi.org/10.1016/j.ehb.2022.101191
Resenhado por Beatriz Lima
O processo eleitoral é um dos
marcos mais importantes da constituição do estado democrático. É através dele
que os cidadãos escolhem os seus representantes, aqueles que irão conduzir a
sua nação pelos próximos anos. Contudo, alguns aspectos dessa conjuntura, como
a disputa latente, possível polarização e conflitos oriundos desse processo,
conferem às eleições o mesmo potencial danoso à saúde dos indivíduos que
outros estressores. A literatura aponta um aumento nos níveis de cortisol e
testosterona nos indivíduos durante uma eleição, os quais estão associados com
a ansiedade e a depressão. Além disso, a incerteza, fator marcante no processo
eleitoral, atua como provocadora de angústia no cidadão, tendo em vista que o
evento eleitoral e seus desdobramentos estão além do seu controle.
O
presente estudo investigou como a incerteza durante o processo eleitoral
impacta a saúde mental dos norte-americanos. Para isso, foram utilizados dados
coletados no Household Pulse Survey (HPS),
uma pesquisa transversal projetada para medir os efeitos do COVID-19 na
população americana, que contou com a participação de mais de dois milhões de
indivíduos. Ela foi realizada semanalmente de abril a julho de 2020 e
quinzenalmente até dezembro de 2021, totalizando 40 rodadas. A cada sequência
os entrevistados respondiam perguntas referentes a aspectos demográficos,
econômicos e de saúde, incluindo o Patient
Health Questionnaire- 4 (PHQ-4), a fim de avaliar alguns aspectos de saúde
mental.
Os resultados mostraram que os sintomas auto relatados tanto de ansiedade, quanto de depressão moderada a grave aumentaram progressivamente conforme a eleição presidencial de 2020 se aproximava e diminuíram após a sua realização, à medida que a incerteza se dissipava. Apesar da diminuição, foi notado que os níveis de ansiedade e depressão permaneceram elevados durante o período de incerteza quanto aos resultados e insurreição ocorrida em Washington-DC. Também foi observado um aumento por procura médica e busca farmacológica com demandas de ansiedade e depressão nesse cenário. Foram realizadas verificações de robustez para descartar outras hipóteses possíveis para os achados, como um surto de Covid-19. A partir disso, o estudo constatou que a eleição possuiu um maior efeito ansiogênico e depressivo na população quando comparada às medidas de isolamento e a pandemia de Covid-19 em abril de 2020. Não foram encontrados indícios de uma relação direta entre o desenvolvimento de vacinas e/ou taxas de vacinação e o decréscimo nos quadros de ansiedade e depressão dos cidadãos.
A
partir desses achados concebe-se que eleições acirradas, marcadas pela
incerteza quanto ao resultado, influenciam na manifestação de ansiedade e
depressão na população, independentemente de quem seja eleito. É de extrema
importância um acompanhamento estatal dos dados acerca da saúde mental dos
cidadãos durante os futuros processos eleitorais, para que sejam implementadas
políticas públicas a fim de atenuar essas manifestações. O processo eleitoral
pode impactar a saúde física e mental dos cidadãos, então é necessário que os
psicólogos entendam os desdobramentos dessa conjuntura, para que possam lidar
de forma mais efetiva com as demandas trazidas pelo paciente durante esse
processo. Dessa forma, esse profissional irá auxiliar na promoção de saúde,
prevenindo um possível quadro de adoecimento. A fim disso, irá contribuir para
que o seu paciente desenvolva mecanismos de enfrentamento, buscando atenuar o
sofrimento decorrente da incerteza durante o período eleitoral.
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