Qualidade de vida entre famílias que possuem filhos com deficiência intelectual associada ao Transtorno do Espectro Autista

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Borilli, M. C., Germano, C. M. R., de Avó, L. R. D. S., Pilotto, R. F., & Melo, D. G. (2022). Qualidade de vida familiar entre famílias que têm filhos com deficiência intelectual leve associada ao transtorno do espectro do autismo leve. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, 80, 360-367. https://doi.org/10.1590/0004-282X-ANP-2020-0537.

 

Resenhado por Luíza Ramos

 

            A deficiência intelectual (DI) é um distúrbio do desenvolvimento caracterizado por habilidades mentais gerais prejudicadas. Já o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por prejuízo persistente na comunicação social recíproca e interação social, além de padrões restritos e repetitivos de comportamento. Pelo menos 10% dos indivíduos com DI têm TEA e cerca de 50 a 80% dos indivíduos com TEA apresentam algum grau de DI. Cuidar de pessoas com TEA e DI geralmente resulta em desgaste emocional e financeiro. Nesse sentido, a qualidade de vida familiar tende a ser reduzida. O objetivo do estudo foi investigar a qualidade de vida de famílias que possuem membros com DI leve em associação com TEA.

            Trata-se de um estudo descritivo e transversal, com amostra por conveniência, coletada a partir da  Associação de Pais e Amigos de São Carlos, em São Paulo. Participaram 69 famílias. Os instrumentos utilizados foram um questionário sociodemográfico familiar, outro que se referiu ao perfil de DI e TEA, o Índice de Barthel, para avaliar as atividades básicas da vida diária e o nível de independência em relação às atividades, e o Beach Center Quality of Life para mensurar qualidade de vida familiar, incluindo domínios como parentalidade, interação familiar, bem-estar emocional, bem-estar físico e suporte relacionado à deficiência. As análises estatísticas foram feitas no JASP.

            Os resultados mostraram que a qualidade de vida familiar foi sustentada por fatores como interação familiar e cuidado dos pais com os filhos, sendo influenciada negativamente pelo bem-estar emocional e pelas condições físicas e materiais, que apresentaram escores reduzidos. As pontuações mais elevadas de qualidade de vida foram explicadas pela configuração de família que inclui valores e participação familiar como principal agente ofertador de bem-estar para as pessoas com deficiência. Além disso, dois fatores se relacionaram com o nível de independência das pessoas com DI e TEA: a religiosidade, mostrando que as famílias que professam alguma religião relataram ter sentido uma força conquistada por meio da espiritualidade e mais aceitação da criança com deficiência, como também a presença de comunicação efetiva foi significativamente associada com pontuações mais altas em independência para atividades diárias.

            Em suma, o estudo é importante para a Psicologia da Saúde à medida que compreende fatores que podem levar ao adoecimento de famílias com pessoas diagnosticadas com autismo e deficiência intelectual, como a qualidade de vida percebida. Assim, políticas públicas podem ser pensadas considerando esses fatores, com o objetivo de estimular o cuidado nessa área, além de contribuir para avaliações de serviços e intervenções clínicas com este público.

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