Impactos do tratamento com técnicas de Mindfulness na obesidade e transtornos alimentares

 

Barbosa, M. R., Penaforte., F. R. O., & Silva, A. F. S. (2020). Mindfulness, mindful eating and intuitive eating in the approach to obesity and eating disorders. Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool Drogas, 16(3), 118-135. Doi: https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2020.165262

Resenhado por Thayslane Ribeiro-Almeida

           

A obesidade e o sobrepeso são problemas cada vez mais comuns e, apesar das informações sobre as consequências dessas condições, a adesão ao tratamento é frequentemente baixa. As dietas se firmam em um pressuposto de redução da quantidade ou mudança na qualidade dos alimentos consumidos, dessa forma, o controle é feito de forma cognitiva e por fatores externos, o que leva a uma falta de conexão do indivíduo com sua sensação de fome e saciedade. Esse contexto pode contribuir para a desregulação do comportamento alimentar, culminando na recidiva do peso e desenvolvimento de transtornos alimentares.

            Mindfulness é uma técnica voltada a atenção plena em uma determinada situação, já o Mindful eating (ME) se refere a mesma técnica, mas relacionada a alimentação. O comer intuitivo (CI) é outra intervenção semelhante. Tais técnicas consistem em trazer a pessoa para uma maior consciência durante as refeições, focando nos sinais fisiológicos do seu corpo, como fome e saciedade, e não no valor calórico dos alimentos. Nesse contexto, a presente pesquisa teve como objetivo realizar uma revisão integrativa da literatura sobre essas intervenções em relação ao comportamento alimentar, aspectos físicos e psicoemocionais.

 Para realização do estudo foi adotado o protocolo internacional para estudos de revisão e metanálise, o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews (PRISMA) A busca dos artigos foi realizada nas plataformas PubMed, PePSIC, PsycINFO, LILACS, SciELO, e BVS-PSI com os seguintes descritores indexados segundo a padronização do DeCs/MeSh: transtorno alimentar (eating disorder ou feeding disorder), comportamento alimentar (eating behavior), atenção plena (mindfulness), obesidade (obesity) e excesso de peso (overweight). Além desses, foram utilizados “mindful eating” e “comer intuitivo”, que não estavam indexados, mas apareciam com frequência nos campos de busca.

Foram encontrados 785 artigos a princípio. Depois das exclusões (duplicados, que não respondiam as perguntas de pesquisa/atendiam os critérios de inclusão) restaram 38 artigos para análise, formando o corpus textual final.  As intervenções baseadas em ME e CI tiveram bons resultados em relação aos comportamentos alimentares: 55,3% dos artigos demonstraram redução de episódios de compulsão alimentar, comer emocional e alimentação guiada por estímulos externos. No que se refere aos aspectos físicos, as pesquisas com foco em intervenção, em sua maioria (66,7%), demonstraram uma redução significativa do peso dos participantes. Por outro lado, estudos randomizados não encontraram diferenças entre os grupos experimentais e controle.

Sobre os aspectos psicoemocionais, 80% dos artigos evidenciaram melhora, a exemplo da redução de sintomatologia ansiosa e depressiva e estresse percebido. Ademais, a prática do ME e CI também esteve relacionada a uma maior flexibilidade psicológica e redução de evitação experiencial. A melhora na capacidade de respostas as sensações do corpo também foi um fator de destaque, o que faz sentido na medida em que o foco dessas técnicas é focar a atenção no presente e para as necessidades fisiológicas.

Esta revisão trouxe informações acerca de intervenções de mindfulness e CI em pessoas com obesidade e transtornos alimentares. Esses achados são importantes para a Psicologia da Saúde, pois permitem entender quais os aspectos psicológicos relacionados a obesidade, adesão as dietas/tratamentos e manutenção de peso. Dessa maneira, este estudo pode contribuir para fomentar intervenções mais efetivas, impactando positivamente na qualidade de vida desse público.

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