O estresse e a saúde mental de profissionais da linha de frente da Covid-19 em hospital geral
Front line staff stress and mental health during COVID-19 pandemic in a
general hospital
Horta, R. L., Camargo, E. G., Barbosa, M. L.
L., Lantin, P. J. S., Sette, T. G., Lucini, T. C. G., ... & Lutzky, B. A.
(2021). O estresse e a saúde mental de profissionais da linha de frente da
COVID-19 em hospital geral. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 70,
30-38. https://doi.org/10.1590/0047-2085000000316
Resenhado Por José Wilton
Os efeitos psicossociais durante a
pandemia da Covid-19 podem deixar muitos profissionais da área da saúde
vulneráveis, principalmente, aqueles que atuaram na linha de frente. Esses
profissionais relataram alto nível de estresse e sobrecarga devido à falta de
vacinas, jornadas de trabalho prolongadas, falta de equipamentos de segurança,
evolução graves de alguns pacientes, testes insuficientes e medo da infecção do
vírus. Portanto, este estudo teve o objetivo de investigar os efeitos da
atuação na linha de frente da Covid-19 na saúde mental de profissionais de
hospital público.
O estudo trata-se de um recorte
transversal de estudo prospectivo, com abordagem mista, envolvendo apenas profissionais
que atuam na linha de frente da Covid-19. Foram selecionadas para participar da
pesquisa 278 pessoas, sendo excluídas 112 participantes (40%) dos quais 72
(80%) relataram não estar atuando na linha de frente ou não possui mais vínculo
com o hospital. Restando 166 profissionais, destes 43 (26%) recusaram
participar da pesquisa relatando muito cansaço, sobrecarga, adoecimento ou
familiar doente. A amostra final contou com 123 participantes. A coleta de
dados ocorreu durante a inclinação das curvas de contágio. As entrevistas
ocorreram do dia 11 a 14 de junho de 2020, tendo sido realizadas por uma equipe
previamente treinada. Foram aplicados os Self-Reporting Questionnarie (SRQ-20)
buscando ocorrências de transtornos mentais, Perceived Stress Scale (PSS), que avalia percepção de estresse e Oldenburg
Burnout Inventory (OBI) com o intuito de verificar casos de Burnout.
Os resultados apresentaram que 40% da
amostra indicou pontuações compatíveis com transtornos mentais comuns. Viu-se
também que 45% tiveram escores iguais ou superiores a 25 pontos no PSS, o que
indicava altos níveis de estresse. No OBI, que além de verificar casos de Burnout
também mensura o nível de exaustão e distanciamento, apresentou que 60% da
amostra atingiram escores de exaustão, dos quais 49% exibiram distanciamento do
trabalho. O Burnout estava presente em 41% do grupo. O estudo observou elevados
níveis de carga de trabalho pelas equipes, visto que a mediana para a atuação
na linha de frente da Covid-19 foi de 36 horas, uma semana anterior as
entrevistas. No entanto, 24,4% do grupo referiu ter trabalhado 45 horas ou mais
naquela semana. Os achados foram consoantes à literatura, a qual traz
evidências de que a sobrecarga na linha de frente da Covid-19 é a principal
fonte de sofrimento mental, visto que a carga excessiva pode contribuir com
alto níveis de estresse, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático.
Portanto, constatou-se que profissionais
que atuaram na linha de frente da Covid-19 apresentaram resultados preocupantes
nos quadros de saúde mental. Assim, é importante tal estudo para a psicologia
da saúde, pois promove conhecimento acerca dos efeitos nocivos que os
profissionais da saúde exibiram ao estar na linha de frente da Covid-19. Desta
forma, pode-se elaborar medidas de intervenções que promovam melhores condições
de trabalho e diminua os níveis de estresses desses profissionais, contribuindo
para uma melhora na saúde mental dos mesmos.
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