Abordando o neuroticismo no tratamento psicológico
Sauer-Zavala, S., Wilner, J. G., & Barlow, D. H.
(2017). Addressing neuroticism in psychological treatment. Personality
Disorders: Theory, Research, and Treatment, 8(3), 191-198. doi: http://dx.doi.org/10.1037/per0000224
Resenhado por Luanna Silva
Neuroticismo é um traço de personalidade
caracterizado pela tendência de experimentar frequentemente e intensamente
emoções negativas - como ansiedade, medo, raiva, tristeza- diante de uma ampla
gama de fontes estressoras. Outra característica é a percepção do mundo como
perigoso e a avaliação de si mesmo como alguém incapaz de lidar com eventos
ameaçadores. Como resposta, uma das manifestações comportamentais do
neuroticismo é o foco no criticismo a si e àqueles ao seu redor.
O neuroticismo está associado a diversos
problema de saúde pública, desde transtornos psicológicos (a exemplo dos
transtornos de ansiedade, depressão, personalidade) a doenças físicas (como
síndrome do intestino irritável, asma, eczema, doenças cardiovasculares). Além
disso, esse traço prevê a busca por assistência em saúde e a resposta ao
tratamento tanto para transtornos mentais quanto para problemas gerais de
saúde. Considerando a tendência de analisar além dos diagnósticos para
identificar os principais processos implicados no desenvolvimento e manutenção
dos sintomas em uma variedade de distúrbios, adotar o neuroticismo como alvo de
intervenção terapêutica parece ser um meio eficiente e econômico de abordar os
diversos problemas de saúde pública associados a ele.
Muitos estudos têm contrariado a ideia de
que os traços de personalidade não são maleáveis, sendo identificado que
intervenções desenhadas especificamente para agir sobre a personalidade pode obter
desfechos bem sucedidos. A área da psicofarmacologia investe fortemente em
pesquisas sobre esse tema, já tendo identificado agentes farmacológicos
específicos que atuam nas dimensões da personalidade. Quanto as intervenções
psicológicas, observa-se que existem poucas estratégias planejadas diretamente
para esse fim. O Unified Protocol for Transdiagnostic Treatment of Emotional
Disorders (UP) é exemplo de intervenção desenvolvida para abordar o
neuroticismo. Consiste em seis módulos básicos de tratamento destinados a
extinguir o sofrimento em resposta à experiência de emoções aversivas.
Inicialmente os pacientes são psicoeducados sobre a função das emoções e
aprendem como se envolver de modo saudável em vez de evitar o que sentem. No
passo seguinte, por meio do mindfullness, os pacientes aprendem os
benefícios de uma atitude focada no presente e sem julgamento em relação às
suas emoções. O módulo três é focado em encorajar o paciente a ser mais flexível
na maneira como avalia as situações que provocam emoções, questionando
interpretações automáticas. O quarto estágio envolve a identificação de
comportamentos de evitação que impedem a exposição total a emoções fortes. O
tratamento é finalizado com a exposição a situações que eliciam emoções
aversivas. Este protocolo tem acumulado evidências de eficácia para o
tratamento de transtornos de ansiedade, depressão, estresse pós traumático e
transtorno bipolar.
Considerando que o neuroticismo está
associado a vulnerabilidade responsável pelo desenvolvimento e manutenção de
condições de adoecimento físico, parece relevante que psicólogos da saúde
estejam atentos aos achados dos estudos com essa temática. Além disso, é
importante destacar que apesar das evidências apontarem que tratamentos
psicológicos específicos podem ter efeito sobre esse traço, existem poucos
trabalhos com esse objetivo. Logo, psicólogos da saúde podem contribuir para o
desenvolvimento e avaliação de protocolos delineados para agir sobre o
neuroticismo.
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