Terapia baseada em exposição e mindfulness para síndrome do intestino irritável – Um estudo piloto aberto

 

Ljótsson, B., Andréewitch, S., Hedman, E., Rück, C., Andersson, G., & Lindefors, N. (2010). Exposure and mindfulness based therapy for irritable bowel syndrome–an open pilot study. Journal of behavior therapy and experimental psychiatry, 41(3), 185-190. Henrich, J. F., Gjelsvik, B., Surawy, C., Evans, E., & Martin, M. (2020). Doi: 10.1016/j.jbtep.2010.01.001

Resenhado por Luanna Silva

 

A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é um distúrbio da interação cérebro-intestino. Essa condição não apresenta marcadores biológicos que podem ser detectados com ferramentas de diagnóstico de rotina, sendo amplamente reconhecido que uma interação complexa de fatores biológicos, neurais, imunológicos e psicológicos desempenham um papel na etiologia e manutenção do quadro.

Tratamentos psicológicos ajudam a reduzir a gravidade da SII e melhorar a saúde mental e a qualidade de vida dos pacientes diagnosticados com esse distúrbio. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) se destaca entre as abordagens de sucesso com essa população, contudo, observam-se inconsistências em alguns estudos. Diante disso, surge a hipótese de que a TCC clássica sozinha pode não ser a melhor estratégia de tratamento e que outras abordagens precisam ser testadas. Neste estudo foi desenvolvido e avaliado um protocolo de TCC com exercícios de mindfulness e exposição aos sintomas da SII e ansiedade específica aos fatores da doença.

A amostra foi composta por 34 pacientes com idade média de 34,6 anos (DP = 11,00). Foi aplicado o Diário Gastrointestinal para registro dos sintomas de SII, Visceral sensitivity index para medir a ansiedade específica, Irritable bowel syndrom quality of life instrument para avaliar a qualidade de vida, Montgomery Åsberg Depression Rating Scale – Self para investigar sintomas de depressão e Sheehan Disability Scales para avaliar incapacidade nas áreas social, laboral e familiar. O tratamento foi composto por 10 sessões de grupo semanais, com 2 horas de duração, conduzidas por dois psicólogos, com 4-6 pacientes em cada grupo. O protocolo abrangeu três temas principais. Primeiro, foi realizada a psicoeducação sobre um modelo psicológico de SII, sendo destacado o efeito negativo de comportamentos que servem para controlar ou evitar sintomas do distúrbio. O segundo tema foi mindfulness. Os pacientes aprenderam um exercício de 15 minutos, a ser praticado diariamente, destinado a trazer o paciente à consciência imediata dos sintomas atuais de SII, pensamentos, sentimentos e impulsos comportamentais. O terceiro tema foi a exposição, dividida principalmente em três categorias: sintomas da SII (eliciar sintomas por meio do consumo de comidas específicas, situações estressoras), evitação de comportamentos que controlam os sintomas (como distração, idas frequentes ao banheiro, restrição alimentar) e enfrentar situações em que o aparecimento dos sintomas da SII é indesejável (como usar o transporte público).

Os participantes experimentaram melhorias significativas em quase todas os desfechos investigados. Observou-se que 50% dos pacientes apresentaram melhora estatisticamente significativa no nível dos sintomas de SII. Os índices de qualidade de vida, incapacidade e ansiedade específica também apresentaram diferenças estatisticamente significativa quando comparados com os valores anteriores ao tratamento. Não houve mudanças estatisticamente significativas no nível de depressão dos participantes. A falta de comparação com grupo controle é uma limitação importante deste estudo e deve ser considerada ao avaliar os achados, pois não permite análises conclusivas.

Por fim, a SII é uma condição física intensamente afetada por fatores psicológicos. O psicólogo da saúde pode agir tanto sobre a investigação dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento e manutenção do quadro, a fim de promover tratamentos eficazes; como pode oferecer suporte psicológico ao paciente e familiares para ajudar na adaptação ao diagnóstico.

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