Mindfulness aplicado à saúde
Demarzo, M., &
Garcia-Campayo, J. (2017). Mindfulness aplicado à saúde. Programa de Atualização em Medicina de Família e Comunidade, 12(1),
9-48. https://www.researchgate.net/publication/317225586_Mindfulness_Aplicado_a_Saude_Mindfulness_for_Health
Resenhado por Beatriz de Oliveira
Santos
O
mindfulness pode ser compreendido
como um estado mental caracterizado por dois componentes: a autorregulação da
atenção, que está relacionada à atenção dada ao fenômeno enquanto ele ocorre; e
a atitude de abertura e curiosidade frente à experiência, que está voltada à
observação do fenômeno como ele é. Além disso, refere-se também a um traço
psicológico, de modo que uma série de exercícios, técnicas e práticas podem
aprimorar essa característica. Nos últimos anos, as intervenções baseadas em mindfulness (MBIs) têm sido aplicadas em
contextos de saúde, com o objetivo de auxiliar no manejo de algumas condições
médicas, por meio do ensinamento de práticas de atenção plena em programas
estruturados e manualizados.
Este
artigo abordou os principais conceitos e práticas associadas à aplicação de mindfulness no campo da saúde, bem como
realizou uma revisão das evidências disponíveis sobre a aplicação de MBIs em
condições clínicas e não clínicas. Ainda, discutiu sobre a implementação da
prática no contexto de atenção primária à saúde (APS). Um conjunto de
resultados de metanálises trazidos no estudo exemplificam a eficácia do mindfulness no manejo do estresse, nos
transtornos de ansiedade, transtornos de depressão e em condições crônicas,
como câncer, dor crônica, diabetes e hipertensão.
É
evidente o crescente corpo de evidências em relação às MBIs. Essas intervenções
se dão por meio de programas estruturados. No caso do manejo do estresse, um
dos programas utilizados e prevalente nas pesquisas trazidas neste estudo é o
MBSR, que apresenta uma eficácia moderada na maioria das pesquisas analisadas.
As evidências científicas mais robustas sobre os efeitos do mindfulness são em relação aos
transtornos depressivos com o programa MBCT. Já para a ansiedade, os estudos
abordaram o uso do MBSR, do MBCT e de MBIs de modo geral. Quanto às condições
clínicas crônicas, câncer e dor crônica são aquelas em que há maior aplicação
de MBIs. Os resultados apresentados indicam algumas melhorias no sono, em
sintomas de ansiedade, depressão e na qualidade de vida. Por fim, os efeitos de
MBIs em pacientes com diabetes, hipertensão e multimorbidades ainda foram pouco
explorados, não havendo muitos estudos sobre esses quadros na literatura.
O
texto traz uma discussão sobre a implementação do mindfulness no sistema de saúde, destacando a necessidade de
elaboração de planos estratégicos para que seja possível o acesso a essas
intervenções. O programa PSBM, por exemplo, é uma adaptação para intervenção no
contexto de APS, com o objetivo de facilitar a implementação de MBIs breves
nesse serviço. Ao contrário do modelo MBSR, o PSBM utiliza sessões mais curtas
e segue uma sequência didática de conteúdo, visando ao aprendizado de
pacientes, usuários e profissionais de saúde. Além disso, o PSBM estava sendo
testado em versões mais curtas, com menos sessões presenciais e também em
formato online.
Ao cultivarem a atenção plena, as intervenções baseadas em mindfulness têm como objetivos o
desenvolvimento de habilidades de autorregulação emocional, manejo do estresse
e melhoria do bem-estar psicológico. Essas habilidades são especialmente
relevantes no contexto da saúde, pois contribuem para o enfrentamento de
doenças orgânicas. Portanto, a realização de mais estudos que investiguem a
eficácia do mindfulness no tratamento
de condições de saúde é de extrema importância para a Psicologia da Saúde, pois
se trata de intervenções que podem oferecer alternativas de estratégias mais
adaptativas para lidar com o adoecimento físico.
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