Intervenções de mindfulness durante a gravidez: uma revisão narrativa

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Resenhado por Susana Santana

Lucena, L., Frange, C., Pinto, A. C. A., Andersen, M. L., Tufik, S., & Hachul, H. (2020). Mindfulness interventions during pregnancy: A narrative review. Journal of Integrative Medicine, 18(6), 470-477. https://doi.org/10.1016/j.joim.2020.07.007

A gravidez é um período de transformações na vida da mulher. Mudanças fisiológicas, psicológicas e sociais podem afetar aumento de sintomas de estresse, ansiedade e depressão, mudanças na qualidade e quantidade do sono e diminuição da autoestima. Todos esses fatores se relacionam com a série de adaptações que o corpo da gestante passa para apoiar o desenvolvimento do feto. A exemplo, pode-se destacar que os níveis de cortisol, hormônio relacionado a processos de estresse, aumentam no final do primeiro trimestre, atingindo níveis três vezes mais altos que no período pré-gestacional. As mudanças desse período também envolvem aspectos emocionais relacionados a maneira como a gestante se relaciona com as experiências externas, como casa, trabalho, família e relacionamentos interpessoais.

Diante das particularidades desse contexto, o estudo em questão realizou uma revisão narrativa para avaliar intervenções de mindfulness com mulheres em período gestacional. Mindfulness, que tem em sua origem associações a práticas meditativas orientais, geralmente é descrito como um estado mental que envolve a concentração da atenção no momento presente, de forma intencional e sem julgamentos, com uma atitude de abertura e aceitação de experiências internas e externas. Para avaliar as intervenções de mindfulness no contexto da gestação, os autores incluíram na triagem apenas estudos de ensaios clínicos randomizados que utilizaram esse tipo de intervenção em mulheres grávidas, por pelo menos três semanas. Ao final, treze estudos foram filtrados para análise.

Os estudos mapeados mediram o efeito das intervenções de mindfulness sobre sintomas de estresse, ansiedade e depressão. Verificou-se grande diversidade de programas e protocolos e heterogeneidade entre os instrumentos usados para avaliar os resultados. Ainda assim, as intervenções se mostraram benéficas para sintomas de estresse, ansiedade e depressão. A eficácia também foi percebida em mulheres grávidas com histórico de depressão ou que estavam com depressão. No entanto, houve inconsistência de dados sobre os períodos gestacionais incluídos nos estudos. Considerando dados de regulação emocional e nível de mindfulness, houve indícios de melhora. Mas, para conclusões mais sólidas, seriam necessários mais estudos. Nenhum dos estudos avaliou a qualidade do sono das gestantes e mais da metade dos estudos envolviam protocolos com oito semanas de duração.

Esta revisão trouxe informações sobre programas de intervenção de mindfulness aplicados a mulheres em período gestacional. Tais considerações estão dentro do escopo de investigação da Psicologia da Saúde. Intervenções que visam a adaptação psicológica em contextos de saúde, como a gestação, exigem evidências científicas sólidas que amparem intervenções direcionadas. Levar em conta os aspectos fisiológicos, psicológicos e sociais de determinado quadro de saúde, e compreender o processo de adaptação e ajustamento psicológico em condições estressoras pode favorecer o desenvolvimento de protocolos eficazes de saúde psicológica visando a saúde e o bem-estar de gestantes.

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