Modelos em Saúde: O Modelo das Crenças em Saúde

Resenhado por Mariana Menezes

Stroebe, W. & Stroebe, M. (1995). Determinantes do Comportamento de Saúde: Uma Análise a Nível da Psicologia Social. In W. Stroebe & M. Stroebe, Psicologia Social e Saúde. (pp. 39-45). Lisboa, PT: Instituto Piaget.

O modelo de crença na saúde foi desenvolvido pelos psicólogos sociais do Serviço de Saúde Pública dos EUA na intenção de compreender porque as pessoas não utilizam a prevenção de saúde ou os rastreios para detectar a tempo as doenças que não estavam associadas com sintomas muito claros. O modelo de crença na saúde pressupõe que a probabilidade de um indivíduo efetuar um determinado comportamento de saúde é em função do nível em que a pessoa acredita ser suscetível a uma determinada doença, e da percepção que ela tem da gravidade das consequências de ter a doença. Susceptibilidade e gravidade, em conjunto, determinam a ameaça percebida da doença, ou seja, a vulnerabilidade. Por exemplo, uma mulher de mais de quarenta anos de idade, e que tem um histórico familiar de câncer de mama pode saber que tem grandes chances de desenvolver a doença, essa é a suscetibilidade percebida. A gravidade percebida é o conhecimento que ela tem de que pode perder a mama ou morrer se vir a ter a doença. Mas não basta apenas a pessoa perceber a ameaça da doença para ela ter um comportamento de saúde, vai depender do quanto ela acredita que os benefícios da ação poderão ultrapassar as barreiras associadas com ela, então, ela irá avaliar os custos, inconveniências, e até mesmo possíveis dores.
Uma pista para ação também pode ser necessária para desencadear o comportamento de saúde adequado. Essa pista pode ser interna, como um sintoma físico, ou, externa, como campanhas midiáticas, conselho médico, ou a morte de algum amigo com idade e estilo de vida parecidos. De acordo com este modelo, podem existir várias razões para que uma pessoa não mude seu comportamento de saúde, mesmo que sua vulnerabilidade seja elevada. Existem evidências da existência de uma tendência nas pessoas de subestimar os seus próprios riscos de saúde quando comparados com os dos outros. Mas, mesmo que as pessoas percebam uma ameaça de forma realista, elas têm poucas probabilidades de desenvolver medidas de proteção da saúde se duvidarem de sua eficácia ou se se acharem que os esforços são muito grandes para que valha a pena. Portanto, campanhas nos meios de comunicação devem conter argumentos que convençam as pessoas de que consequências sérias para a saúde podem advir, a não ser que certos aspectos dos seus estilos de vida sejam alterados; e de que a adoção de comportamentos de saúde específicos reduzem consideravelmente este risco.
A avaliação empírica do modelo de crença na saúde foi feita por Janz e Becker (1984) que revisaram 46 estudos baseados no modelo de crença na saúde, e os resultados foram os seguintes: obstáculos (89%), susceptibilidade (81%), benefícios (78%) e gravidade (65%). Os resultados foram interpretados como fornecendo apoio substancial para o modelo.  Porém, o fato da associação entre duas variáveis ser significativa do ponto de vista estatístico não nos fornece muita informação relativa à força dessa relação. Para avaliar a força de uma associação teríamos de possuir informação acerca dos tamanhos dos efeitos que nos permitiriam uma estimativa da variância do comportamento de saúde que está relacionado com os vários componentes do modelo.
As implicações do modelo de crença na saúde, no que diz respeito ao planejamento das intervenções que têm como objetivo influenciar um determinado domínio do comportamento de saúde; são ilustradas pelos resultados de um estudo que aplicou o modelo ao uso de preservativo entre adolescentes. O estudo constatou uma fraca relação entre intenção e gravidade percebida da infecção pelo HIV, vulnerabilidade percebida à infecção pelo HIV e a percepção de eficácia no uso do preservativo. Por outro lado, os obstáculos ao uso do preservativo estavam relacionados com as intenções de se fazer acompanhar de preservativos e de usá-los. Estes resultados sugerem que ao invés de enfatizar a vulnerabilidade dos jovens à infecção, à gravidade da mesma e à eficácia do preservativo, como tem sido feito na maior parte das intervenções, poderá ser mais eficaz se nos centrarmos nos obstáculos da aceitação social em intervenções futuras.
Em suma, o texto nos mostra a importância do modelo de crença na saúde que nos ajuda a avaliar a probabilidade de uma pessoa emitir um comportamento de saúde e quais aspectos estão relacionados a esse comportamento. O texto também esclarece porque algumas pessoas não alteram seu comportamento de saúde. Sua leitura é indicada para todos os interessados em conhecer possíveis estratégias de mudança dos comportamentos de saúde. É indicado, especialmente, para aqueles que já trabalham ou que pretendem trabalhar nesta área.



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