Temas de Psiconeuroendocrinologia

Resenhado por Grasielle Rocha

GONZÁLEZ, M. A. Stress: Temas de psiconeuroendocrinologia. 2. ed. São Paulo: Robe, 2001.

O capítulo 1 deste livro tem como objetivo apresentar os conceitos de estresse, sua origem e suas classificações. De início o autor apresenta um problema que floresceu no pensamento científico de finais do século XIX: como os seres vivos se adaptam e sobrevivem às condições mutantes do ambiente? Umas das tentativas para a solução do problema se direcionou ao estudo das chamadas “situações, estados ou reações de estresse”. Porém, a abundante informação experimental e clínica que existe neste campo ainda hoje não integrou um modelo definitivo do problema colocado.
O autor explica que a psiconeuroendocrinologia, como ramo interdisciplinar das ciências da vida, oferece um marco conceitual para a compreensão desse problema. Os sistemas nervoso e endócrino, ao funcionar coordenadamente, são os responsáveis da autorregulação do organismo. Desta forma, qualquer estágio do processo saúde-doença está influenciado por este “suprassistema” psiconeuroendócrino, no qual, o nível psicológico conserva sua especificidade e, por sua vez, coordena e é influenciado pelos outros componentes.
Do ponto de vista da física, o estresse é uma resposta dentro do objeto, que é inerente a sua estrutura e é provocada por uma força externa, ou seja, pelo estímulo estressor. Já o químico alemão Liebig dizia que essa condição do corpo, que se chama saúde, tem intrínseca a concepção do equilíbrio entre todas as causas de gastos e de abastecimento. Na fisiologia, Claude Bernard propôs o equilíbrio entre o experimento e a formulação da hipótese, e desconsiderou o organismo como um agrupamento de órgãos isolados que funciona por meio de uma força interna especial. Ele colocou a hipótese do “meio interno”, no qual os órgãos se desenvolvem e se mantém unidos. Conforme o organismo se torna mais complexo, este meio interno se isola cada vez mais do mundo exterior.
Walter Cannon definia o estresse não como resposta e sim como o estímulo. Ele desenvolveu a teoria da “reação de emergência”, em que se destacava a função adaptativa da ira e do medo, cuja expressão se dava por meio da liberação de um hormônio: a adrenalina. Para Hans Selye, considerado o “pai” do estresse nos dias atuais, o estresse é uma resposta inespecífica do organismo diante qualquer demanda feita sobre ele, sendo constatado através de um padrão estereotipado e filogeneticamente arcaico, que prepara o organismo para a luta ou para a fuga. Segundo Selye, quando um agente age sobre o organismo, o efeito resultante dependerá de três fatores: específico, não específico e condicionantes (exógenos e endógenos). Todo agente tem propriedades específicas e não específicas. As não específicas são variantes e são características de cada agente individual, e estão ligadas ao efeito do estresse, assim, o modificando. Ele introduziu tais critérios frente à pressão dos fatos experimentais que cada vez mais debilitavam o dogma da inespecificidade e teve que reconhecer que alguns agentes estressores têm efeitos específicos, quer dizer, não causam exatamente a mesma resposta.
Selye trouxe também o conceito de doença de adaptação ou de estresse, ou seja, aquela em que um estressor inespecífico teve um fator causal no seu desenvolvimento. Selye, na distinção entre o ‘eustresse’ e o ‘distresse’, ou seja, entre o estresse bom e o ruim, pressupõe que certa em quantidade o estresse é adaptativo, no entanto, uma dose excessiva torna-se prejudicial.
Logo depois houve modificações do modelo básico de Selye e um dos seguidores mais importante foi Lennart Levi. Este autor propôs que os níveis de estresse podem ser alterados pela intensidade ou pela qualidade do estímulo estressor; e com relação à intensidade da estimulação pode-se afirmar que níveis extremos de estimulações, seja por excesso ou por defeito, aumentam o nível de estresse do organismo. Na teoria de Selye, o nível de estresse seria o equivalente da dimensão resultante do modelo bidimensional, no qual descrevem-se situações de alto nível de estresse e de pouco ou nenhum grau de controle sobre o estressor e seu impacto, ou seja, a extenuação do organismo.
O estresse é classificado em quatro níveis: Psicológico, produzido por estímulos emocionais ou perceptuais; Social, restrições culturais, mudança de valores, migrações; Econômico, restrições econômicas, desemprego, etc.; e Fisiológico, produzido por agressões físicas, químicas, bacterianas, virais, etc. Segundo a Organização Mundial da Saúde, os agentes produtores de estresse constituem estímulos que afetam a homeostase do organismo e podem ser classificados de acordo com sua origem em: física, biológicos e psicológicos.
Em suma, o impacto do estresse psicossocial (agregado das dimensões psicológica e social) é determinado pelo grau em que seja percebido por uma pessoa como ameaça ou como desafio, e também é determinado pela vulnerabilidade da pessoa e sua capacidade de adaptar-se e de enfrentar-se ao estímulo estressor. A relação que existe entre o estresse e a vulnerabilidade é a que determina os efeitos sobre a saúde e esta vulnerabilidade é um processo dinâmico que reflete o resultado de exposições prévias ao estresse e as mudanças na capacidade de adaptação.
Portanto, é pertinente afirmar que não há um único conceito para a palavra estresse, e que o estresse é uma adaptação ao estímulo e não uma doença. Contudo, o texto presente teve sua abordagem nos principais aspectos do capítulo 1 do livro Temas de Psiconeuroendocrinologia tais como: o surgimento da palavra estresse, os principais conceitos e suas classificações. Como foi visto acima, o termo estresse não é apenas abordado pela psicologia, mas também na física de onde surgiu, na fisiologia, na sociologia e na biologia. O termo estresse é bastante importante para estudos no ramo da Psicologia da Saúde, pois o objetivo é entendermos o que leva a pessoa está estressada, e principalmente entender porque os fatores externos causam o estresse.   


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