Psicologia da Saúde, Saúde Pública e Saúde Internacional
Resenhado por Alexsandra Macedo
MATOS, M. G., Psicologia da Saúde, saúde pública e saúde
internacional. Análises Psicológicas (2004), 3 (XXII): 449-462.
O presente
artigo traz explanações sobre como a organização dos serviços de saúde está
sendo influenciada pelos estudos do comportamento humano em contexto de saúde. Dessa
forma, promove-se o desenvolvimento do conhecimento da Psicologia no âmbito da
Saúde Pública em uma perspectiva holística, que leva em consideração as
dimensões demográfica, política, técnico-científica, social e cultural.
A publicação do relatório Reduzindo Riscos e
Promovendo uma Vida Saudável, pela OMS (1978), destaca a promoção do
comportamento ligado a saúde, e a identificação e prevenção de fatores de risco,
tais como: sexo não protegido, consumo de tabaco, abuso de álcool, hipertensão,
falta de saneamento básico, o uso de água não potável, obesidade,
subalimentação, entre outros. Esses fatores, embora evitáveis, são responsáveis
por um terço das mortes no mundo.
Os
referidos indicadores têm variações geográficas, sendo que nos países em
desenvolvimento a transição demográfica é acompanhada de uma transição de risco
com a coexistência das doenças infecciosas tradicionais com as doenças crônicas
não transmissíveis e de risco comportamentais ligadas à poluição, ao consumo de
álcool, tabaco e drogas, bem como a alimentação industrializada e ao sedentarismo.
Foi o desenvolvimento dos saberes da Psicologia da Saúde, da Saúde
Comportamental e da Medicina do Comportamento que proporcionaram uma maior
contribuição da Psicologia para a prevenção da doença e a promoção e proteção a
saúde com ênfase em alguns dos comportamentos citados acima. Podemos observar o
surgimento posterior do interesse por comportamentos interpessoais relacionados
com a violência, a sexualidade, as relações e o estresse laboral e escolar,
assim como o estabelecimento de rede interpessoal, o lazer e as suas
associações com a promoção e proteção da saúde.
Com
os resultados dessas pesquisas, foi possível obter uma maior compreensão do
processo de interação dos fatores biológicos e psicológicos relacionados ao
desenvolvimento de várias condições de doença e saúde. Essa compreensão
possibilitou a inclusão de novas áreas de conhecimento, promovendo a
consolidação de uma visão interdisciplinar da saúde. Nessa perspectiva a
Psicologia da Saúde e da Saúde Pública trabalham conjuntamente no desenvolvimento de
intervenções preventivas e protetivas para a saúde dos indivíduos e da
população.
Para
compreendermos esse processo evolutivo ressalta-se a importância dos
conhecimentos adquiridos na chamada primeira revolução da saúde centrada no
modelo biomédico, e os referentes à segunda revolução da saúde, que parte do modelo
biomédico para o de Saúde Pública, focando na prevenção e atuando tanto no meio
físico e social, no âmbito individual e ambiental.
Na
fase sanitarista, a Saúde Pública delineou intervenções preventivas ao nível de
populações por meio da manipulação do meio ambiente e do contato interpessoal,
em que o objeto de estudo nessa segunda revolução na saúde passou a ser não
apenas a ausência de doenças, mas um estado positivo de bem-estar, por
intermédio de vacinação, controle da qualidade da água, de higiene e contato
interpessoal, na qual as alterações preventivas no ambiente físico e social
permitiram a diminuição dos agentes infecciosos.
A
partir desses estudos direcionados para o comportamento do indivíduo, o texto
alerta para a necessidade de uma reorganização de prioridades nos serviços de
saúde, em que as ações interventivas irão para além do hospital, alcançando
toda a comunidade. Essa questão é corroborada pela nova epidemiologia
comportamental (meados dos séc. XX), que reconhece que a maior taxa de doenças
e mortalidade prematura tem haver com hábitos desenvolvidos pelos indivíduos que
põem em risco a saúde do indivíduo. Chama-se atenção também para os novos
desafios para a saúde, a exemplo do envelhecimento da população, as novas
dinâmicas familiares, as novas migrações, o aumento do poder do consumidor, um
aumento dos políticos com a opinião pública, fatores esse que ganharam força
com a revolução da informação.
Nessa
perspectiva a promoção da saúde envolve vários fatores, desde as adaptações
ambientais e comportamentais, conseguidas através de estratégias educacionais,
motivacionais, organizacionais, econômicas, reguladoras e tecnológicas,
mantendo-se como foco a ação sobre a pessoa, os grupos e a população. Nesse
contexto ocorre a chamada a terceira revolução da saúde, que sublinha a
importância da definição de metas, avaliação de resultados e redefinição de
novas metas em função da avaliação.
É
importante ressaltar o trabalho em equipe multidisciplinar na promoção a saúde
e na prevenção dos riscos no qual o profissional da saúde passa a ser visto
como um catalisador do desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos. Nessa
dinâmica a intervenção da Psicologia na área de saúde deve centrar-se nos
determinantes, nos mediatizadores e nas consequências dos comportamentos dos
indivíduos, observando a relação entre pessoa e ambiente.
Sendo
assim, a educação para a saúde é um processo de capacitação, participação e
responsabilização dos indivíduos, para que os mesmos consigam potencializar sua
percepção individual de competência, felicidade pessoal e valores próprios que
o orientem quanto a escolha e manutenção de um estilo de vida saudável.
O presente artigo é indicado para os
profissionais da área da saúde e interessados na compreensão da dinâmica da
Saúde Pública e Psicologia, de como essa interação ocorreu e qual o contexto
que a propiciou. Permite o esclarecimento sobre como o comportamento dos
indivíduos são os maiores responsáveis por seus males, além de enfatizar o
trabalho comunitário como um determinante na prevenção e promoção da saúde.
Traz uma explanação histórica que permite acompanhar o desenvolvimento e a
mudança de paradigmas na construção das intervenções em saúde.
Nenhum comentário: