Música, alegria e afetividade contra os males do Alzheimer
Postado por Matheus Fernandes
A Doença de Alzheimer
é uma doença neuro-degenerativa e progressiva que destrói e compromete a
memória bem como outras importantes funções mentais. Essa doença está presente
principalmente em pessoas acima dos 60 anos e não possui cura, o que reforça a necessidade
de tratamentos múltiplos e alternativos que podem atenuar os efeitos da doença
e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Nesse contexto, o Programa
Scricto Sensu em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília desenvolveu
um programa denominado “Terapias Expressivas no Tratamento de Idosos com Doença
de Alzheimer”, que consiste na utilização de músicas, danças e um ambiente
afetivo para o tratamento do Alzheimer. Em suas três fases, avaliou-se desde a
percepção dos cuidadores com relação a condição dos familiares portadores da
doença, passando por uma avaliação fisiológica até, atualmente, uma avaliação
através de testes cognitivos, com o objetivo de comprovar se as sessões de
terapia foram eficazes no tratamento do Alzheimer:
“Grupo de Pesquisa do programa Stricto Sensu em Gerontologia da
UCB desenvolve pesquisa inédita contra os males da doença de Alzheimer no DF
Fonte: www.ucb.br/Noticias/2/8070/MusicaAlegriaEAfetividadeContraOsMalesDoAlzheimer
Dona Generina Feitosa Cabral e Seu José Alves Cabral estão
unidos pelo matrimônio desde 1965. Apaixonados, construíram uma família com
três filhos e netos. Ambos com 78 anos, além dos cabelos brancos e passos
lentos, normais para a idade, convivem diariamente com um fator a mais
adquirido na velhice: a Doença de Alzheimer (DA), a forma mais comum de
demência entre idosos. Sr. Cabral, como é chamado, foi diagnosticado com DA há
quatro anos e, desde então, D. Generina, além de esposa e companheira de todas
as horas, é também sua cuidadora. Ele, paciente, e ela, cuidadora, fazem parte
do projeto de pesquisa ‘Terapias Expressivas no Tratamento de Idosos com Doença
de Alzheimer’, desenvolvido pela Universidade Católica de Brasília (UCB), no
Programa Stricto Sensu em Gerontologia. O projeto, iniciado há aproximadamente
cinco anos, é um trabalho inédito que utiliza músicas da época em que esses
idosos eram jovens, dança e muita afetividade, abraços, carinhos e atenção à
pessoa com DA, com o objetivo de diminuir os distúrbios cognitivos e
comportamentais que esses pacientes desenvolvem.
A Doença de Alzheimer é uma enfermidade sem cura que se agrava
ao longo do tempo, mas que pode e deve ser tratada. Os pacientes, em sua
maioria idosos com mais de 60 anos, se apresentam com demência, ou perda de
funções cognitivas (memória, orientação, atenção e linguagem), causada por
morte de células cerebrais. Entre os principais sintomas estão a perda de
memória, confusão e desorientação, ansiedade, agitação, desconfiança,
dificuldade em reconhecer familiares e amigos, perder-se em ambientes
conhecidos e distúrbios do sono, entre outros. Características comuns
apresentadas por Sr. Cabral nos últimos três anos. D. Generina recorda que o
marido foi diagnosticado com DA depois de uma crise de agressividade e perda
constante da memória. ‘Ele chegou a um ponto de não reconhecer mais os filhos’,
lamenta Dona Generina.
Após descobrir o grupo de pesquisa da UCB, o casal passou a
frequentar as sessões de terapias expressivas desde outubro do ano passado. Os
benefícios vieram e os objetivos são constatados na pesquisa, com melhora na
qualidade de vida do casal. ‘Ele se acalmou mais, dorme melhor e quando chega a
sexta-feira, ele consegue saber que é o dia de vir para a terapia’, comemora D.
Generina.
Um avanço que a Profa. Drª Lucy Gomes, professora responsável
pela pesquisa, atribui aos objetivos propostos. ‘O sentimento que tenho é de
intensa alegria por estar ajudando pacientes que não têm cura, mas que estão
melhorando sua qualidade de vida e melhorando também a qualidade de vida dos
cuidadores familiares, pois, quando os pacientes melhoram há diminuição do fardo
que eles provocam na família’, celebra.
Pesquisa,
avaliações e resultados
O projeto de pesquisa Terapias Expressivas no Tratamento de
Idosos com Doença de Alzheimer utiliza músicas da época em que esses idosos
eram jovens, dança e muita afetividade, entre abraços, carinhos e atenção à
pessoa com DA. Objetiva-se estimular a cognição e, com afetividade, conseguir
diminuir os distúrbios de comportamento que esses pacientes desenvolvem. A
pesquisa está dividida em diferentes etapas. Na primeira fase foi feita a
avaliação com os cuidadores de pacientes com DA, sendo que os cuidadores
responderam ao questionário sobre como os pacientes dementados passaram a se
comportar após as sessões de terapia. Nessa pesquisa, 75% dos cuidadores
familiares afirmaram que os pacientes melhoraram, tanto do ponto de vista
comportamental, quanto da cognição.
Na segunda fase, foi feita avaliação da funcionalidade dos
fagócitos, por meio de coleta de sangue dos pacientes. A mestre em Gerontologia
pela Universidade Católica, Cristina Cunha, realizou sua pesquisa e dissertação
nessa segunda fase do projeto. Durante um ano acompanhou o grupo de 25 a 30
pacientes, coletou sangue antes e após 24 sessões de terapia, verificando que
as músicas, a expressão corporal e a afetividade, propostas do projeto,
ajudaram no sistema imunológico desses pacientes com Alzheimer. Cristina Cunha
explica que estudou as células de defesa do organismo. ‘Com as coletas de
sangue verificamos se o número dessas células de defesa aumentava, diminuía ou
se ficavam inalteradas. Conseguimos perceber que, depois de 24 sessões,
principalmente as células neutrófilas que são as da primeira linha de defesa no
organismo, tiveram um aumento significativo’, comemora a pesquisadora. A ação
não farmacológica, sem interferência de medicamentos conseguiu comprovar que os
pacientes ficam menos suscetíveis a doenças oportunistas. ‘Isso pode ser um
indício de que em termos de tratamento faz bem tanto para eles (pacientes com
Alzheimer) quanto para os cuidadores familiares, que participam e se reversam
nos cuidados’, afirmou Cunha.
Atualmente, o projeto iniciou sua terceira fase, quando a profª.
Drª Lucy, juntamente com alunos de cursos de graduação e da pós-graduação da
UCB, aplicará os testes cognitivos para verificar quantitativamente se há
melhora da memória e se há a melhora da qualidade do sono nos pacientes com DA
após participação nas sessões. Nesse terceiro grupo, os pacientes respondem ao
exame cognitivo de Addenbrooke, exame que avalia as alterações da memória, de
linguagem e atenção. ‘No primeiro grupo nós entrevistamos os cuidadores que
apontaram a melhoria da memória dos pacientes. Agora, nós queremos verificar se
há quantitativamente essa melhoria, aplicando os questionários nos pacientes
com Alzheimer’, relata a responsável pela pesquisa, Drª Lucy.
A
abertura aos pacientes com DA
Qualquer paciente com o diagnóstico de Alzheimer pode
participar. As sessões de terapia contagiantes com música, diversão e
principalmente carinho, ocorrem todas as sextas-feiras, às 14h, no ICDF
Taguatinga - Instituto de Cardiologia do Distrito Federal, Unidade Taguatinga,
antigo Hospital Universitário da Universidade Católica de Brasília, no
endereço: Qs 05 lote 22, Avenida Areal - Taguatinga, ou ligar no telefone (61)
34511022, de segunda a sexta, no horário 9h às 16h, falar com a enfermeira
Clênia.
O projeto é totalmente gratuito, faz parte do programa de
pós-graduação Stricto Sensu em Gerontologia da UCB, sendo coordenado por profa.
Drª Lucy Gomes, com a participação de pesquisadores do programa e estudantes da
graduação do curso de Medicina e Psicologia. A estudante do 9º semestre de
Medicina, Natalia Pierdoná, pretende seguir a linha de atuação em gerontologia
e, como voluntária do projeto, é admiradora dos benefícios que as sessões
trazem para a vida desses pacientes e cuidadores. ‘Eles se sentem acolhidos,
satisfeitos e felizes com nosso trabalho. Aqui eles esquecem os problemas’,
afirmou. Dona Generina, conta que a terapia expressiva com músicas e
afetividade é um cuidado que vai além do que ela alcança e faz pelo marido. E
olha que o amor dedicado ao Sr. Cabral está acima de tudo. ‘Eu deixo de cuidar
de mim para cuidar dele’, concluiu Generina.
Saiba Mais: Alzheimer no Brasil e no mundo
A Doença de Alzheimer (DA) é a forma mais comum de demência
entre idosos. É doença incurável, de causa desconhecida, cuja frequência
aumenta significativamente com a idade. Como a DA é uma enfermidade crônica de
evolução lenta, além do fato de que nas fases avançadas o paciente se torna
completamente dependente, incapaz de alimentar-se, banhar-se ou vestir-se sozinho,
o impacto econômico sobre a sociedade é considerável. Enquanto as outras
principais causas de morte têm diminuído, as mortes por DA têm aumentado
dramaticamente.
Entre 2000 e 2008, as mortes por doenças cardiovasculares
diminuíram em 13%, por AVC em 20%, câncer de próstata 8%, enquanto por DA houve
um aumento de 66%. É a sexta causa de morte nos Estados Unidos (EUA). Estima-se
que nos EUA 5,4 milhões de pessoas sejam portadores da doença. A cada 69
segundos, um norte-americano é diagnosticado como portador de DA. Em 2050, esse
tempo cairá para 33 segundos, atingindo de 11 a 16 milhões de pessoas só
naquele país.
Em 2010, nos EUA, cerca de 15 milhões de familiares e cuidadores
dispenderam aproximadamente 17 bilhões de horas em cuidados diretos aos pacientes,
com um custo estimado de U$ 202 bilhões. O custo da enfermidade no mundo chega
a
U$ 604 bilhões por ano, cerca de 1% do PIB mundial.
U$ 604 bilhões por ano, cerca de 1% do PIB mundial.
De acordo com o relatório anual ‘World Alzheimer Report, Alzheimer`s Disease International’, estima-se que no mundo, em 2010, havia
35,6 milhões de portadores e que, em 2030, este número aumentará para 66,7
milhões, chegando a 115,4 milhões em 2050. Uma em cada oito pessoas com mais de
65 anos é portadora de DA; sendo 4% antes dos 65 anos, 6% entre 65 e 74, 44%
entre 75 e 84 e 46% com mais de 85 anos. Dessa população, dois terços vivem em
países pobres ou em desenvolvimento; 70% a 80% dos pacientes vivem em seus
domicílios.
No Brasil, não há dados estatísticos concretos, mas se pode
afirmar que a presença da DA no país é muito significativa: cerca de 1,2 milhão
de brasileiros.”
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