Psicologia Positiva e Resiliência: O foco no indivíduo e na família
Resenhado
por Edryenne Matos
Yunes, M. A. M. (2003).
Psicologia Positiva e Resiliência: O foco no indivíduo e na família. Psicologia em Estudo, 8(esp.), 75-84.
A Psicologia
Positiva almeja romper o viés negativo e reducionista de algumas tradições
epistemológicas que adotam o ceticismo frente às expressões salutogênicas de
indivíduos ou grupos. Sendo assim, ela é definida como uma perspectiva que tem
a finalidade de proporcionar aos psicólogos uma visão mais apreciativa e aberta
das motivações, dos potenciais e das capacidades humanas. Neste sentido, entre os
fenômenos estudados pela Psicologia Positiva, encontra-se a resiliência. A
precursora do estudo sobre resiliência é a ciências exatas, com o cientista
inglês Thomas Young, que introduz a noção de elasticidade após considerar a
tensão e compressão, e com o cientista Silva Jr., que denomina como resiliência
a capacidade que um material pode ter em absorver energia sem sofrer deformações
permanentes.
A utilização
de maneira adaptada do termo resiliência nas ciências sociais e humanas,
precisamente na Psicologia, se deu a partir da percepção da inadequação dos
termos invulnerabilidade e invencibilidade que eram utilizados. Os teóricos
chegaram à conclusão de que esses termos sugeriam que os indivíduos eram
totalmente imunes às possíveis desordens independente das circunstâncias em que
elas ocorressem. Destarte, algumas pesquisas na área da Psicologia dedicaram-se
ao estudo da resiliência e indicaram que as bases deste fenômeno são tanto
constitucionais como ambientais, e que o grau de resistência varia de acordo
com as circunstâncias. Isto posto, resiliência nas ciências sociais refere-se
aos processos que explicam a capacidade de superação das adversidades em
indivíduos, grupos e organizações. Outros significados podem ser atribuídos ao
construto, como, por exemplo, a capacidade de retornar rapidamente para o seu
estado de saúde após passar por adversidades.
Algumas
correntes sugerem que a resiliência possui um conjunto de traços que podem ser
replicados, já outras afirmam categoricamente que a resiliência é de caráter
processual. Então, alguns estudos foram produzidos com base no postulado por
essas correntes. A resiliência, vista como um conjunto de traços e/ou
características que podem ser replicadas com foco no indivíduo, originou
estudos como os de Werner e Smith (1982, 1992) que objetivaram entender os
padrões de adaptação da criança associados à adequação apresentada na idade
adulta e também como esses padrões de adaptação das diferentes fases do
desenvolvimento interagem com mudanças ambientais externas. Os fatores
atribuídos aos grupos resilientes foram: Temperamento das crianças/jovens
(afetivos e receptivos), famílias menos numerosas, maior nível de autoestima,
melhor desenvolvimento intelectual, maior grau de autocontrole e menor
incidência de conflito nas famílias. Além disto, nota-se que um
componente-chave para o enfrentamento é o sentimento de confiança apresentado
pelo indivíduo para a superação de obstáculos. Já a segunda corrente,
representada pelo psiquiatra britânico Michael Rutter, afirma que a resiliência
não pode ser vista como um atributo fixo do indivíduo, mas que, com a alteração
das circunstâncias, altera-se também a resiliência, por consequência.
Verifica-se
que algumas pesquisas focam no estudo da resiliência em famílias estudando os
aspectos promotores de saúde do grupo familiar. Um dos primeiros estudos
publicados específicos desta área indicam quatro tipos de famílias resilientes,
as características encontradas partem do conceito que resilientes são aquelas
famílias que resistem aos problemas decorrentes de mudanças e adaptam-se à
crise. Os quatro tipos de família são: vulneráveis, seguras, duráveis e
regenerativas. A atribuição do tipo dependerá da forma como a unidade familiar
lidará com as situações em função do relacionamento com os seus membros. A
partir de outra perspectiva, Froma Walsh trabalha a resiliência nas famílias em
diversos estudos, ela postula que resiliência, neste contexto, refere-se aos
processos adaptativos e de coping na
família enquanto unidade funcional. Ela também afirma que para total apreensão
da resiliência faz-se necessário um complexo modelo interacional, e que a
teoria sistêmica possibilita a expansão da visão de adaptação individual para a
correlação de influências através dos processos transacionais.
Portanto, verifica-se
que os aspectos estudados pela Psicologia Positiva relacionam-se, de alguma
forma, com a Psicologia da Saúde, já que esta objetiva compreender como fatores
sociais, biológicos e comportamentais influenciam o processo saúde e doença, a
exemplo da resiliência que é estudada pelas duas abordagens.
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