A violência contra mulheres, crianças e adolescentes em tempos de pandemia pela COVID-19: panorama, motivações e formas de enfrentamento

16:20

Marques, E. S., Moraes, C. L. D., Hasselmann, M. H., Deslandes, S. F., & Reichenheim, M. E. (2020). A violência contra mulheres, crianças e adolescentes em tempos de pandemia pela COVID-19: panorama, motivações e formas de enfrentamento. Cadernos de Saúde Pública, 36, e00074420. doi:        10.1590/0102-311X00074420

 

Resenhado por Franciely Santos

A forma mais eficaz de combater a propagação do COVID-19 continua sendo o distanciamento social, porém essa medida traz algumas repercussões negativas, como nos relacionamentos interpessoais, especificamente entre parceiros e pais e filhos. Em diversos países foi visto um aumento no número de violência contra a mulher e contra crianças e adolescentes. No Brasil, houve um aumento de 17% nas ligações para o 180 com denúncias, desde que foi recomendado o distanciamento social, em março de 2020. Com a ampliação da vulnerabilidade das vítimas por alguns fatores, instituições produziram materiais com medidas de enfrentamento.

As medidas de contenção do vírus significaram para muitas mulheres mais trabalho doméstico e cuidado com filhos e outros familiares. A busca por ajuda também foi dificultada, pois instituições que eram vistas como de apoio (igreja, escola, serviço de proteção social) tiveram suas atividades interrompidas ou diminuídas; atendimentos de saúde deram prioridade a pacientes suspeitos ou confirmados de COVID; e, a rede de amigos e familiares foi restringida. O abusador, por sua vez, com as restrições estabelecidas, viu-se com maior poder e controle sobre a casa. Além disso, fatores como o medo de adoecer, incerteza do futuro, redução de renda, podem ter sido gatilhos para os agressores e, consequentemente, para o agravamento da violência.

Com as recomendações, as atividades escolares foram interrompidas, além de atividades laborais, ou seja, as crianças e/ou adolescentes e os pais ficaram sem suas principais ocupações, ou realizaram as mesmas de casa. Assim, foi exigido maior responsabilidade dos pais com as crianças/adolescentes, maior manejo com as questões diárias e maior concentração. A sobrecarga dos pais, o estresse das crianças, que ficaram mais irritadas pelas restrições que foram impostas, além do maior tempo de convivência, podem influenciar no aumento do risco de violências contra crianças e adolescentes.

Diante do que foi exposto, e entendendo a gravidade da pandemia, bem como a necessidade do distanciamento social, algumas instituições e organizações, como OMS e UNICEF, desenvolveram materiais para a prevenção das violências. Nos materiais foram trabalhados pontos como qualidade do tempo que os pais passam com as crianças e os adolescentes, e criação de espaços para falarem dos sentimentos. Também foram utilizados e reforçados pontos já comuns para combater a violência contra a mulher, como: garantir o atendimento 24h do Ligue 180, Disque 100 e 190, fortalecer as campanhas publicitárias e incentivar o apoio às mulheres, crianças e adolescentes vítimas de violência.



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