Estresse e bem-estar no trabalho: uma revisão de literatura
Stress and well-being at work: a literature review
Hirschle, A. L. T., & Gondim, S. M. G. (2020). Estresse e bem-estar no trabalho: uma revisão de literatura. Ciência & Saúde Coletiva, 27(5), 2721-2736.
Resenhado por Nayara Chagas Carvalho
O estresse enquanto fator de risco à saúde mental e física das pessoas está presente na vida cotidiana através de situações novas, ou até mesmo adversas, com as quais as pessoas se percebem com recursos insuficientes para enfrentá-las. Ao transpor isso para a organização, o estresse laboral está associado a uma avaliação do trabalhador, das demandas e situações geradas no trabalho que põe em xeque a sua capacidade para encará-las, provocando uma série de reações negativas que comprometem o seu bem-estar. Cada indivíduo possui uma reação diferente aos eventos estressores a depender da relação pessoa-ambiente, recursos pessoais que possui (ex. inteligência emocional e autoestima) e do contexto em que se encontra.
O estudo buscou encontrar evidências empíricas de variáveis pessoais e contextuais que contribuem para o bem-estar e saúde dos trabalhadores, a fim de melhor compreender as relações entre estresse e bem-estar na população investigada. Trata-se de uma revisão sistemática da literatura na qual foram analisados 50 artigos nacionais e internacionais, publicados durante o período de 2006 a 2016. Os autores identificaram que as variáveis organizacionais como a ausência de suporte organizacional, de recursos no trabalho e dificuldades nas relações foram associados mais negativamente com o bem-estar do que positivamente. A presença de autonomia e suporte social no ambiente organizacional também diminuíram os efeitos negativos dos estressores.
Já os recursos pessoais foram consolidados como preditores mais positivos do bem-estar, à exemplo da autoeficácia e da regulação emocional. Os autores ainda reforçaram a ambivalência dos impactos das Estratégias de Coping e da Regulação Emocional no BET, sobretudo com relação ao coping de esquiva. Embora essa estratégia seja abordada como um preditor negativo, o coping de esquiva pode vir provisoriamente a ter efeitos benéficos a depender das variáveis contextuais em jogo, a exemplo de situações em ambientes aversivos sobre o qual não se consegue o controle. Os danos à saúde são causados pelo uso habitual dessa estratégia. Nesse sentido, o uso de diferentes estratégias de regulação emocional pode auxiliar na adaptação aos eventos ou preditores de estresse a depender do contexto.
Em suma, o estudo abordou aspectos ainda pouco explorados na literatura – como os recursos pessoais (resiliência, regulação emocional, desapego psicológico, dentre outros), a relação pessoa-ambiente e os fatores intervenientes a nível grupal – esclarecendo o papel e os impactos enquanto preditores/moderadores de estresse e/ou bem-estar. Ademais, este estudo mostrou-se relevante na medida em que pode subsidiar programas e políticas de promoção da saúde e do bem-estar, bem como de prevenção do estresse, dando mais atenção aos fatores psicossociais que, se não tratados adequadamente, podem provocar prejuízos maiores a saúde do trabalhador.
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