Lacunas no tratamento de transtornos ansiosos é global: resultados do World Mental Health Surveys em 21 países

 

Alonso, J., Liu, Z., Evans-Lacko, S., Sadikova, E., Sampson, N., Chatterji, S., Abdulmalik, J., …, & WHO World Mental Health Survey Collaborators (2018). Treatment gap for anxiety disorders is global: Results of the World Mental Health Surveys in 21 countries. Depression and anxiety, 35(3), 195–208. doi: 10.1002/da.22711 

 

Resenhado por Amanda Feitosa 

 

Os transtornos de ansiedade se destacam como um dos problemas mentais mais prevalentes em todo o mundo. Além de possuir uma idade de início precoce, os transtornos ansiosos são altamente comórbidos e responsáveis por elevados índices de sofrimento psicológico. Apesar de estudos mostrarem a eficácia de diversos tratamentos para esses transtornos, ainda existe uma lacuna na procura desses serviços de saúde. Entre os fatores que podem ser responsáveis pela barreira aos tratamentos, destaca-se a fragilidade das instituições de saúde, o custo dos serviços e o estigma associado aos transtornos mentais. Dessa forma, essa pesquisa teve como objetivo estimar a proporção mundial de pessoas que percebem a necessidade de tratamento e a proporção de indivíduos que recebem tratamento, adequado ou não, entre aqueles com diagnóstico de transtornos mentais nos últimos 12 meses. 

Os dados do presente estudo foram coletados em 21 países, dentre esses o Brasil, os quais são derivados de 23 pesquisas epidemiológicas ligadas a OMS. Incluiu-se tanto países desenvolvidos como aqueles de baixo e médio desenvolvimento. Entrevistadores treinados utilizaram o instrumento CIDI (WHO Composite International Diagnostic Interview), baseado no DSM-IV, para a mensuração dos transtornos ansiosos. Além disso, questionou-se aos participantes a frequência de acesso a serviços de saúde, tipo de tratamento e profissional que lhe atendeu. O estudo foi composto de duas partes, com 51,547 participantes respondendo ambas as etapas da pesquisa. Não houve limite máximo de idade para o estudo, contudo, só foram incluídos participantes a partir dos 18 anos. 

Os achados mostraram que apenas 27,6% das pessoas com transtornos ansiosos receberam tratamento médico no último ano. Observou-se também que a prevalência da ansiedade foi maior em países desenvolvidos, assim como a maior porcentagem de pessoas que receberam tratamento em comparação a países de baixo e médio desenvolvimento. Menos da metade dos indivíduos com transtornos ansiosos relataram a necessidade de tratamento, sendo que os indivíduos com maior percepção para buscar serviços de saúde são oriundos de países desenvolvidos. A percepção do indivíduo de precisar ou não de tratamento é um dos principais determinantes para a lacuna dos tratamentos pela população. Outro fator importante foi a qualidade do serviço de saúde, uma vez que apenas um terço das pessoas que buscaram tratamento no último ano o considerou como adequado. 

Ressalta-se a problemática das disparidades em saúde, uma vez que pacientes oriundos de países de baixo e médio desenvolvimento possuem menos acesso a serviços de saúde e, consequentemente, não recebem o tratamento adequado para tratar sua condição clínica. Portanto, a Psicologia da Saúde por ser uma área que lida com a prevenção e tratamento de doenças tem um papel fundamental na diminuição dessas disparidades e da lacuna da procura por tratamento. A promoção da literacia em saúde para a população em geral é um fator importante, uma vez que o conhecimento e a procura por tratamento depende da percepção do indivíduo de seu estado de saúde. Além disso, destaca-se a função dos psicólogos no auxílio do desenvolvimento de políticas públicas de saúde que contemplem grupos desfavorecidos da sociedade, os quais divergem em oportunidades de acesso a tratamentos em comparação a outros.


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