Crenças metacognitivas e estratégias de enfrentamento das pessoas que tentam suicídio
Yazihan, N. T., Çinar, O., Canbaz, H., & Ak, M. (2019). Metacognitive beliefs and coping strategies of suicide attempters. Psychiatric and Behavioral Sciences, 9(1-2), 34-40. https://doi.org/10.5455/PBS.20181027113257.
Resenhado por Michelle Leite
A metacognição é a habilidade de avaliar, monitorar e regular a própria cognição. Esse mecanismo influencia os tipos de estratégia que regulam pensamentos e sentimentos e é crucial na avaliação dos recursos individuais diante de situações estressantes. A metacognição se torna prejudicial à medida que mantém a emoção negativa e fortalece crenças disfuncionais sobre os pensamentos. Metacognições como “ruminar me ajudará a encontrar respostas” e “pensamentos depressivos são incontroláveis e prejudiciais” são disfuncionais e impedem os indivíduos de pensar com clareza e eficácia. Além disso, como variável envolvida nas estratégias de enfrentamento (coping), a metacognição é um processo fundamental na tomada de decisão e na resolução de problemas.
Diante de eventos estressores e problemas complexos, alguns indivíduos se tornam vulneráveis ao suicídio. O comprometimento da capacidade de resolução de problemas, atrelado à presença comum de quadros de depressão subliminar (sintomas de depressão em indivíduos que não preenchem os critérios para o diagnóstico de depressão menor, transtorno depressivo maior ou distimia) são fatores de risco para o suicídio. Indivíduos suicidas tendem a utilizar mais frequentemente estratégias de enfrentamento focadas na emoção do que focadas no problema, sendo estas associadas à menor ocorrência de suicídio. Em face de tais questões, o presente artigo buscou examinar as crenças metacognitivas e estratégias de enfrentamento de indivíduos depressivos subliminares dentro do contexto de comportamento suicida.
O estudo foi conduzido com 60 participantes adultos recrutados num hospital e divididos em dois grupos: o grupo de estudo (n = 30), composto por pessoas (18 homens) que tentaram suicídio e que tinham sintomas depressivos leves; e o grupo controle, composto por participantes saudáveis (17 homens) sem histórico de tentativa de suicídio. Foram aplicados os seguintes instrumentos: o Questionário de Metacognições (MCQ-30), o Questionário COPE, o Inventário de Depressão de Beck (BDI), o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) e a Entrevista Clínica Estruturada do DSM-IV (SCID-I). Os principais resultados demonstraram que os participantes que tentaram suicídio pontuaram maiores níveis de ansiedade, depressão, falta de confiança cognitiva, necessidade de controlar os pensamentos; e menores níveis de reinterpretação positiva, busca de apoio social, enfrentamento ativo e coping focado no problema comparados ao grupo controle.
Este estudo demonstrou a relação entre crenças metacognitivas disfuncionais e coping desadaptativo. O esforço para controlar os próprios pensamentos, devido à crença de que são perigosos, impede que o indivíduo utilize estratégias de enfrentamento focadas no problema de forma eficaz. Além disso, pessoas que tentaram suicídio são mais rígidas na resolução de problemas, o que dificulta a criação de soluções alternativas e gera emoções de desespero e baixa confiança cognitiva. Dessa forma, metacognições desadaptativas podem levar à superestimação do estresse percebido e subestimação dos recursos cognitivos e habilidades de enfrentamento, o que pode impedir que indivíduos produzam estratégias de coping adaptativas, levando-os a cometer o suicídio. Os estudos em Psicologia da Saúde, agregados às terapias cognitivas, objetivam o tratamento dos pensamentos irracionais de modo a melhorar a adoção de comportamentos de enfrentamento apropriados diante dos eventos estressores, antes que eles assumam proporções que pareçam insuperáveis para o indivíduo.
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