Quanto pensar sobre a COVID-19 é clinicamente disfuncional?
Lee, A. S. (2020). How much “Thinking” about COVID-19 is clinically dysfunctional? Brain, Behavior, and Immunity, 87, 97-98. doi: 10.1016/j.bbi.2020.04.067
Resenhado por Brenda
Fernanda
Diversos estudos têm evidenciado o quanto a COVID-19
pode causar impactos significativos para a saúde mental. As pessoas são
expostas repetidamente a conteúdos desencadeadores de ansiedade, o que torna
fundamental que pesquisadores, profissionais de saúde e gestores de políticas
públicas estejam atentos ao reconhecimento dos sinais clínicos de processos de
pensamento disfuncional relacionados à crise da COVID-19. Para responder à
questão de quanto o pensamento relacionado à pandemia pode ser considerado excessivo,
este estudo avaliou a frequência do pensamento das pessoas sobre a COVID-19 e
analisou como eles se relacionam com medidas de angústia e comprometimento
funcional.
Participaram da investigação 775 adultos (idade média
de 30 anos) que relataram algum nível de ansiedade em relação ao novo coronavírus
(coletados em 11 a 13 de março de 2020), ao passo que uma segunda amostra
consistiu em 398 adultos (idade média de 32 anos) que não apresentaram níveis
de ansiedade (coletado em 23 e 24 de março de 2020). Utilizou-se como
instrumento a Escala de Obsessão sobre a COVID-19 (OCS), que apresenta índices
psicométricos considerados satisfatórios (α > 0,84).
Os resultados apontaram que os pensamentos associados
à COVID-19 podem ser considerados excessivos quando passam a ter frequência de aproximadamente
três a sete dias a cada semana. Seja sonhando, pensando repetidamente, tendo
crenças perturbadoras de que foi contaminado pelo coronavírus ou de que encontrou
determinadas pessoas que estar contaminadas. Ainda que esses processos
cognitivos sejam derivados de um sistema de defesa biologicamente evoluído
projetado para manter uma pessoa protegida de danos, esses padrões de
pensamentos persistentes e angustiantes são sintomas comuns de ansiedade patológica.
Além disso, esses pensamentos foram considerados inadequados no contexto deste
estudo, pois não estavam apenas vinculados ao comprometimento funcional, mas
também estavam associados a uma série de outros sinais clínicos, como o abuso
de drogas e álcool e pensamentos suicidas.
Por fim, diante dos achados, ratifica-se a relevância
de que profissionais de saúde, pesquisadores e agentes de políticas públicas
reconheçam os pensamentos disfuncionais relacionados à COVID-19, a fim de que
possam promover intervenções adequadas. O trabalho do psicólogo da saúde infere
nos três papéis supracitados, havendo uma ampla gama de possibilidades de
atuação, tanto de caráter preventivo quanto de tratamento de sintomas
psicopatológicos relacionados à pandemia do novo coronavírus.
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