Trauma infantil acelera o envelhecimento corporal e cerebral
Tradução e adaptação Matheus Macena
Uma pesquisa publicada pela American Psychological Association (APA) sugeriu que crianças que sofreram de trauma ou violência, no período inicial da vida, demonstram sinais biológicos de envelhecimento precoce quando comparadas a crianças que não vivenciaram este nível de adversidade. O estudo examinou sinais de envelhecimento biológico na forma de puberdade prematura, envelhecimento celular e mudanças na estrutura cerebral, todos foram associados à exposição à trauma.
Pesquisas anteriores apresentaram evidências mistas sobre a influência da adversidade no processo de envelhecimento precoce. No entanto, esses estudos avaliaram diferentes tipos de adversidade para diferentes medidas de envelhecimento biológico enquanto o estudo mencionado acima avaliou a adversidade em duas categorias: relacionada a uma ameaça, como abuso ou violência, e a privação, física ou emocional. A pesquisa foi conduzida na forma de uma metanálise de 80 estudos com um total de 116 mil participantes. Foi encontrado que crianças que sofreram de trauma associado a violência tem maior chance de entrar na puberdade mais cedo e apresentam sinais de envelhecimento acelerado a nível celular. As crianças que vivenciaram pobreza, negligência ou abandono não apresentaram nenhum desses sinais.
Em uma segunda análise foram revisados 25 estudos com mais de 3 mil participantes para determinar como adversidades no período inicial da vida afetam o desenvolvimento cerebral. Foi encontrado que a adversidade tem associação com a redução na espessura do córtex cerebral, considerado sinal de envelhecimento pois o mesmo reduz com a idade. No entanto, diferentes tipos de adversidade foram associados a diminuição da espessura em distintas partes do cérebro. Violência e trauma foram associados com uma parte envolvida com o processamento social e emocional enquanto a negligência foi maior associada com uma região envolvida com processamento cognitivo e sensorial.
Os tipos de envelhecimento acelerado mencionados podem ser fruto de um processo de adaptação evolutiva. Em ambientes violentos e ameaçadores, por exemplo, chegar à puberdade mais cedo torna mais provável que o indivíduo reproduza antes de falecer e o desenvolvimento acelerado de regiões responsáveis por processos emocionais podem auxiliar na identificação e respostas a ameaças. No entanto, essas adaptações geram consequências graves para saúde física e mental na adultez.
Os resultados da pesquisa apontam para a necessidade de intervenções com o intuito de evitar tais consequências. Todos os estudos analisados encontraram processos de envelhecimento acelerado em crianças e adolescentes abaixo dos 18 anos, indicando que o mecanismo biológico responsável por tal processo que contribui para iniquidades em saúde inicia em tenra idade. Os esforços para prevenir iniquidades devem acontecer ainda na infância. Existem inúmeros tratamentos baseados em evidência que podem melhorar a saúde mental de crianças que vivenciaram trauma.
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