Maratona de séries e filmes como estratégia de coping
Perks, L. G. (2019). Media marathoning and health coping. Communication Studies, 70(1), 19-35. doi: 10.1176/appi.ps.201800332
Resenhado por Luanna Silva
O hábito de assistir a vários episódios de um programa de televisão em rápida sucessão ocorre há décadas, contudo com a ascensão de tecnologias, ampla disponibilidade e o custo relativamente baixo de dispositivos móveis e streaming de conteúdo, essa prática cresceu, se tornando um modo comum de consumo de entretenimento. O termo maratona de mídia pode ser definido operacionalmente como a visualização de uma temporada de um programa de TV em uma semana ou menos, a visualização de três ou mais filmes da mesma série em uma semana ou menos, ou a leitura de três ou mais livros da mesma série em um mês ou menos. Esse comportamento está associado a uma sensação de esforço e realização por parte dos espectadores e leitores em torno de sua interação com a mídia.
O engajamento em consumo de mídia pode regular as reações emocionais ao estresse gerando escape temporário das situações estressoras. Essa é uma estratégica tão prevalente quanto outras técnias de enfrentamento, como suporte social e prática de exercício físico. Esta resenha apresenta os achados de trabalho realizado com 12 pessoas que maratonaram séries e filmes enquanto enfrentavam uma situação de adoecimento. A pesquisa buscou responder às seguintes questões: Que padrões emergem das experiências de maratona de mídia ao lidar com um problema de saúde? Quais são as percepções das pessoas sobre o papel, se houver, que a maratona de mídia desempenhou em seus processos de enfrentamento?
Foi observado que vários participantes mencionaram especificamente o transporte para longe da realidade como um dos benefícios da maratona de mídia, ao passo que outros aludiram ao escapismo ao discutir a importância de se distrair de suas preocupações com a saúde. Identificou-se padrão dicotômico nas respostas quanto à escolha do conteúdo, que variou entre relaxante ou desafiador, de acordo com as necessidades do momento. Essas preferências divergentes geralmente estavam relacionadas às habilidades cognitivas situacionais dos participantes (que se alternavam em função de uso de medicamentos, dor, sonolência, etc.) e à natureza de seu estressor de saúde. Verificou-se que os participantes acreditavam que maratonar um conteúdo orientado, como por exemplo, vários filmes de uma série, ajudava mais a reduzir a fadiga cognitiva e emocional do que assistir a vários conteúdos independentes. Além de reduzir as obrigações de tomada de decisão, as narrativas contínuas e personagens familiares de histórias maratonadas ofereciam conforto emocional. Por fim, ficou demonstrado que à medida em que se sentiam melhor, prontos para voltar à sua rotina diária, os participantes tendiam a diminuir ou a interromper a maratona de programas, filmes ou livros. Os resultados apresentados ofereceram evidências de que a maratona de programas e séries pode ser usada como uma ferramenta de enfrentamento que permite a regulação cognitiva, emocional e física. A maiorias dos entrevistados relataram sentimentos positivos sobre as maratonas e o conforto que essas experiências de mídia proporcionavam. Além disso, quando questionados se recomendariam a estratégia para uma pessoa que está passando pela mesma condição de adoecimento que eles, todos os participantes responderam afirmativamente.
Nos últimos meses, maratonar séries e filmes para lidar com o estresse parece ter ganhado força devido à pandemia. O isolamento e consequente afastamento das atividades de trabalho e estudo popularizou ainda mais essa prática. Estresse e coping são temas de interesse da psicologia da saúde, e diante do cenário atual, acredita-se ser relevante investigar de que modo essa estratégia de enfrentamento tem afetado os indivíduos.
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