The role of prediction in suicide / O papel da prevenção no suicídio
Large, M. M. (2018). The role of prediction in suicide prevention. Dialogues in Clinical Neuroscience, 20(3), 197-205. doi: 10.31887/DCNS.2018.20.3/mlarge
Resenhado por Maísa Carvalho
No Brasil, o mês de setembro é destinado à realização da campanha anual “setembro amarelo”, voltada à conscientização do suicídio, o qual é responsável por cerca de 13 mil mortes anuais, de acordo com dados recentes do Ministério da Saúde. A Organização Mundial da Saúde registra, em média, 800 mil óbitos anuais em todo o mundo. Sendo uma questão de saúde pública, torna-se necessário realizar, além da conscientização, a prevenção de casos pelo fenômeno. Pensando nisso, o presente estudo objetivou analisar aspectos como as taxas de mortalidade internacionais, fatores sociodemográficos, análise individual do paciente, dentre outros, que podem impactar na predição e, consequentemente, prevenção global do suicídio.
As taxas de óbitos por suicídio variam em cada país por motivos distintos, dentre eles, a forma de reportar o fenômeno. Porém, apesar da heterogeneidade das taxas e dos métodos empregados, as medidas universais para reportar o suicídio ainda são a melhor esperança para sua prevenção global. No que se refere às características sociodemográficas, algumas possuem maior risco ao suicídio, como ser do sexo masculino, idoso, indígena, entre outras. Mas, medidas de prevenção específicas podem gerar estigma e discriminação. Logo, estratégias universais de conscientização ao suicídio, melhora nos serviços de atenção à saúde mental e redução do estigma aos transtornos mentais podem ser mais eficazes.
Já ter sido hospitalizado se constituiu como fator de risco ao fenômeno. Assim, pacientes atuais e ex-hospitalizados são um grupo bem definido que podem se beneficiar de medidas de prevenção restritivas, não aumentando as chances de se prever o risco. Apesar do risco absoluto de suicídio estar associado à prévia hospitalização, medidas de restrição à liberdade e prolongada internação não são justificadas. Formas menos intrusivas como políticas de observação regular no hospital e redução de pontos de suspensão vem demonstrando bons resultados. Ademais, a redução do estigma associado às admissões psiquiátricas também pode prevenir suicídios. Em relação as categorias de risco, instrumentos que detectam o comportamento suicida são medidas constantemente utilizadas na prática clínica, sobretudo para prever suicídios futuros.
Inúmeros fatores podem levar uma pessoa a pensar e tentar o suicídio. Como forma de prevenir o suicídio ou o suicídio futuro, o procedimento padrão feito pelos especialistas em saúde mental envolve, sobretudo, a análise desses fatores. Entretanto, muitas vezes essa análise não é capaz de prevenir o suicídio ou a categorização de um paciente como suicida pode ser equivocada. Por exemplo, supondo que um indivíduo não possua nenhum dos clássicos fatores de risco e tenha tentado, denominá-lo de suicida pode ser problemático. Considerando que existem fatores idiossincrásicos (aqueles que são únicos de cada pessoa) e tendo feita uma análise criteriosa dos fatores de risco clássicos e dos não clássicos, a estratégia preventiva mais apropriada seria observar o paciente e protegê-lo até que sua angústia seja resolvida.
Empiricamente e teoricamente, o suicídio é um fenômeno complexo e suas causas não são totalmente conhecidas. Por essa razão, sua predição é limitada e sua prevenção também. Todavia, ambas possuem um papel relevante na redução dos casos e merecem destaque pelo poder público. Diante do exposto, os melhores prospectos para a prevenção global do suicídio não envolvem métodos de predição e de prevenção tradicionais. Estratégias pouco abrangentes e direcionadas a pacientes de risco não são capazes de reduzir as taxas de óbito pelo fenômeno. Estudos em Psicologia da Saúde que busquem ampliar a gama de fatores de risco menos tradicionais podem ser feitos com o intuito de dar ênfase a esses aspectos nas campanhas de enfrentamento ao suicídio.
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