Como estereótipos negativos validam manifestações de violência


Lima, M.E.O., Faro, A., & Santos, M. R. (2016). A desumanização Presente nos Estereótipos de Índios e Ciganos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 32, 219-228.
Resenhado por Maria Clara

O racismo se operacionaliza através da hierarquização e essencialização das diferenças através da associação de traços físicos, morais e sociais. O primeiro passo para genocídio e holocausto é quando a imagem do outro justifica violência ou indiferença contra ele. Desumanização caracteriza-se como percepção do outro enquanto minoritário, inferior, representando como não-humano, objetificando e legitimando várias formas de violência contra ele.
Os processos de exclusão se apoiam na categorização social e no essencialismo, dois processos cognitivos. Em relação aos processos, sociais os indivíduos se distribuem em endogrupos e exogrupos, e a cada um deles são atribuídas imagens, um conjunto de características, chamado de estereótipos.
 Alguns tipos negativos dos estereótipos afastam os grupos do que representa o ser humano e os aproximam daquilo que tipifica os animais e coisas inanimadas. A desumanização deriva da criação de hierarquia entre os grupos nos quais um se considera mais humano que o outro. No Brasil, os índios e ciganos carregam consigo um histórico de exploração, exclusão e desumanização, além de serem vistos como primitivos, inferiores, vadios, preguiçosos, desonestos.
A amostra do primeiro estudo foi composta por 378 sergipanos que associaram livremente e informaram as três primeiras palavras, sentimentos ou pensamentos que vinham a sua mente quando ouviam a palavra “índio”. Os resultados encontrados apontaram que 65% da amostra moravam longe de índios, no entanto apresentaram crenças desumanizadoras, caracterizando-os como “primitivos”, “isolados” e “naturais”. As crenças coletivas acerca dos índios indicaram sua exclusão social e cultural.
No segundo estudo, participaram 300 não ciganos entrevistados por roteiro estruturado, além da questão “O que você já ouviu falar sobre ciganos?”. Os estereótipos encontrados foram negativos, sendo a ligação da sua imagem com roubo a mais frequente. Também foram vistos como desonestos, trapaceiros e violentos. Quem morava perto de ciganos, apontou estereótipo negativo e desumanizador, enquanto quem morava longe, referiu uma visão mais mística e nômade acerca dos ciganos.
A exclusão moral foi a principal forma de desumanização encontrada, legitimando assim qualquer forma de violência, e os desconsiderando enquanto merecedores de afetos positivos ou ação de cuidado e apoio. A Psicologia da Saúde possui papel fundamental na atuação dos desfechos provocados pela desumanização, como ansiedade, depressão, além do auxílio na busca de mecanismos que possam combater as crenças coletivas negativas acerca dos índios e dos ciganos.

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