Enfrentamento de Cuidadores de Crianças com Câncer em Processo de Quimioterapia
Almico, T., & Faro, A. (2014).
Enfrentamento de cuidadores de crianças com câncer em processo de
quimioterapia. Psicologia, Saúde &
Doenças, 15(3), 732-737. doi: http://dx.doi.org/10.15309/14psd150313
Resenhado por
Uquênia Lemos Brito
O
câncer compreende um conjunto de doenças que têm em comum a proliferação
descontrolada de células malignas. O tratamento mais frequente é a quimioterapia,
o qual exige atenção não só para as necessidades físicas, mas também para as
necessidades emocionais, assim, é preciso atentar para a falta de compreensão
da doença e como o tratamento quimioterápico gera na criança e na família, medo
de morte, perdas, intenso sofrimento e possível descontrole. Logo, a família,
especialmente o cuidador, precisa se adaptar ao novo contexto e aos desafios
inerentes ao processo, tendo como papel principal auxiliar a criança no
enfrentamento da doença e na adaptação das dificuldades que surgem com o
tratamento. Sendo assim, a pesquisa objetivou caracterizar o processo de
enfrentamento quimioterápico por cuidadores de crianças, como também
identificar as principais estratégias de enfrentamento utilizadas diante da
situação.
Para
tanto, foram entrevistadas 11 cuidadoras, cujos filhos, em sua maioria, eram
meninas, 6 (54,5%), sendo apenas uma
filha única. As crianças estavam em tratamento quimioterápico há pelo menos um
mês e recebiam atendimento em casas de apoio às crianças com câncer em
Aracaju/Sergipe. O tipo de câncer predominante entre as crianças foi a leucemia
(45,4%). Os demais tipos de câncer
eram: tumores do sistema nervoso central (n
= 3), osteosarcoma (n = 1), linfoma (n = 1) e próstata (n = 1). Foi utilizado um
roteiro aberto de entrevista, tendo como base o eixo temático: enfrentamento
(da cuidadora e da criança). As entrevistas foram transcritas na íntegra e
analisadas através do programa IRAMUTEQ que é um método informatizado utilizado
para análise de textos e que busca apreender a estrutura e a organização do
discurso. Nesta pesquisa a análise foi executada a partir de um corpus único, sendo utilizada a
Classificação Hierárquica Descendente (CHD) e dendograma de classes, obtendo
classes de léxicos que, quando agrupados, revelaram as seguintes estratégias de
enfrentamento mobilizadas pelas cuidadoras: esforço e dedicação (54,6%), religiosidade como fonte de conforto e segurança para lidar com a
enfermidade (31,8%) e o impacto do cuidado
no dia a dia e a medicalização do sofrimento (13,6%). Constatou-se
ainda que todo sofrimento que surge da sobrecarga do cuidado pode dificultar o
enfrentamento, trazendo meios de ajustamento associados à abnegação e
resignação, no qual os cuidadores abrem mão de tudo para cuidar do filho doente.
Mas, por outro lado, também se encontrou atitudes positivas das cuidadoras
durante o tratamento, tais como ajustar-se à situação, buscar manter a
integridade familiar e apoiar-se na sua religiosidade, apesar do desgaste da
situação.
Enfim,
observou-se que o tratamento do câncer pediátrico é uma experiência estressante
que sobrecarrega os cuidadores da criança e prejudica a qualidade de vida deles.
Assim, percebe-se a relevância desta pesquisa para a Psicologia da Saúde, pois
permite compreender as exigências e demandas enfrentadas pelos cuidadores durante
a quimioterapia infantil, por isso se torna fundamental a criação de uma rede
de suporte e planejamento de programas de intervenção junto a eles, indicando
estratégias favoráveis durante o processo quimioterápico.
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