O significado dos anabolizantes para os adolescentes

Carregosa, M. S., & Faro, A. (2016). O Significado dos Anabolizantes para os Adolescentes. Temas em Psicologia, 24(2), 519-532. doi. 10.9788/TP2016.2-07
Resenhado por Iracema R. O. Freitas

Os esteroides anabólico-androgênicos (EAA) também chamados de “bombas’, são substâncias sintéticas a base de testosterona, cuja função consiste no aumento da massa muscular (efeito anabólico) e desenvolvimento de características sexuais masculinas (efeitos androgênicos). O uso dos EAA é indicado para o tratamento de algumas doenças como deficiência de andrógenos, câncer de mama, ou para a estimulação do desenvolvimento ósseo, dos músculos, do apetite e outros. Em contrapartida, estudos apontam que os EAA possuem efeitos colaterais em casos de uso adequado, e quando se trata do uso recreativo ou abusivo há um risco de danos ainda maiores. Alguns desses danos são problemas que vão desde os sintomas mais simples como dores de cabeça, diarreias, acnes e dor no local da injeção, até os mais complexos e às vezes irreversíveis, tais como: problemas no Sistema Nervoso, cardíacos, hepáticos, infertilidade masculina e morbidade hospitalar.
Segundo um levantamento do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), 1,4% dos estudantes brasileiros já arriscaram a saúde com o uso de anabolizantes para fins estéticos, sem prescrição médica, com aquisição ilícita e motivada em função do baixo custo, do fácil acesso e da resposta em curto prazo. Dados de 508 estudantes do ensino médio com faixa etária média de 16,2 anos, foram analisados através do software IRAMUTEQ. Utilizando-se entrevista semiaberta, investigaram-se o conceito, os benefícios e os malefícios dos anabolizantes.
De acordo com as semelhanças entre os segmentos do texto, o conteúdo foi dividido em três classes temáticas: a primeira sobre o conceito dos anabolizantes (39,3%), a segunda sobre os benefícios derivados dos anabolizantes (19,1%) e a terceira sobre os prejuízos derivados dos anabolizantes (41,6%). Os resultados mostraram que na primeira classe as principais definições foram massa (88,5%), crescimento (70,2%), desempenho (100%), e ainda o paradoxo “mau e bom” que levou os participantes a falarem dos ganhos e perdas do uso dos EAA, visto que de um lado estão os problemas renais (100%) e impotência (100%), e do outro lado foram citados benefícios como a capacidade de proporcionar agilidade (100%) e resultado instantâneo (100%). Na segunda classe, houve um consenso quanto à relação do uso dos EAA e a imagem corporal com ênfase no fator autoestima e todas as suas implicações (ser feliz, chamar a atenção dos pares e outros). Na terceira classe, os adolescentes concluíram que não há nenhum benefício no uso dos anabolizantes.
Ao considerar a visão do adolescente frente ao uso de anabolizantes, é possível para a Psicologia da saúde elaborar uma concepção de como o uso desse tipo de droga tem despertado uma posição ambígua que abrange o desejo por uma aparência física ideal e os riscos à saúde, bem como desenvolver estratégias de psicoeducação e intervenções em determinados contextos. As concepções errôneas podem levar a danos físicos e psíquicos, uma vez que a baixa autoestima, popularidade, reconhecimento social, venda ilegal de anabolizantes, contato com o mundo das academias, a pressão social, o culto ao corpo, dentre outros, podem servir como janela de vulnerabilidade aos anabolizantes. A atenção diferenciada as demandas dessa população contribuem para que a busca pela realização e bem-estar tomem um percurso menos nocivo que o da adesão aos EAA.

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