Entrevista: Saúde do homem e a prevenção do câncer de próstata

13:30

Roteiro elaborado por Mariana Menezes
Entrevistada: Psicóloga Geovanna Turri

“Novembro Azul” é uma campanha mundial que visa à conscientização da sociedade e, principalmente dos homens, sobre a importância de cuidar da saúde masculina e prevenir o câncer de próstata. Sabe-se que os homens costumam negligenciar os cuidados com a própria saúde e que o câncer de próstata é uma das principais causas de morte entre eles. Nesse mês dedicado à saúde do homem, o GEPPS convidou a psicóloga e integrante do grupo Geovanna Turri (CRP 19/3077 / Lattes) para responder a algumas questões sobre o tema.  

1. Como a psicologia explica o fato de os homens morrerem mais cedo em comparação às mulheres?

Ouvimos relatos, não só na literatura da área, mas no senso comum, que as mulheres buscam mais atendimentos preventivos do que os homens. Isso porque, de forma geral, é enraizado na sociedade que a mulher é mais sensível e frágil, portanto devem se cuidar mais. Já a representação do homem é de virilidade, assim, admitir que precisa de ajuda se torna um ato de fraqueza para muitos, pois é como se o homem estivesse assumindo sua fragilidade. Para a Psicologia isso está relacionado às crenças e ao apoio social, dentre outras coisas. As crenças e o apoio da família e dos amigos podem fazer com que os homens tenham atitudes positivas ou negativas sobre o exame de toque retal. Quando essas atitudes são mais positivas, consequentemente, maiores são as chances de que o homem realize o exame. Por exemplo, se um homem acredita que fazer o exame do toque retal depende dele, que será bom para se prevenir de um câncer de próstata e que seus amigos e familiares o apoiam, as chances dele fazer o exame aumentam muito. Por isso o suporte fornecido à população masculina é tão importante e as intervenções devem ser feitas não somente com esse público, mas com todos, visto que a influência social pode aumentar ou diminuir a adesão ao exame e até mesmo interferir no risco de mortalidade.

2. Porque alguns homens têm resistência para realizar exames preventivos do câncer de próstata?

Mesmo sem sintomas, a Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que os homens que têm acima de 50 anos e os que têm 40 anos com histórico familiar de câncer de próstata busquem anualmente um urologista para fazer check-up da próstata. Para prevenir esse tipo de câncer, o exame do toque retal é considerado o método de maior acurácia diagnóstica nesses casos, aliado a outros exames como o exame de sangue PSA. Diante de todo o preconceito que cerca o exame do toque e da crença que ele pode afetar a masculinidade, os homens optam, muitas vezes, por fazer apenas o exame de sangue, já que esse é considerado por eles um exame simples e sem contato íntimo.
O exame do toque geralmente é associado a dor e ao desconforto físico e psicológico de estar sendo tocado. Esse desconforto está, na maioria das vezes, relacionado ao preconceito. Por exigir contato corporal com a região anal do homem, o exame tem sido alvo de preconceitos, levando a pouca adesão. A baixa adesão ao exame do toque é um reflexo da baixa adesão dos homens aos serviços de atenção primária e, em muitos casos, do pouco conhecimento acerca da relevância dos exames preventivos. O preconceito em saúde relaciona-se com a concepção de masculinidade e machismo, na qual muitos homens acreditam que são fortes e por isso não precisam fazer exames preventivos, considerando o cuidado em saúde função feminina. Essa crença de que o cuidado é função feminina, aponta para algumas questões de gênero e machismo, que se mostram mais relevantes quando se constata o alto índice de homens que poderiam ter a chance de morte reduzida para determinadas doenças se realizassem exames preventivos.
Então, o que esses homens devem ter em mente é que é preciso realizar os exames que o médico pede, pois ele avalia a necessidade de cada caso, e se o mesmo indicou o exame do toque é porque realmente é necessário. Nesse momento, o homem deve buscar ter controle sobre aspectos que podem funcionar como fatores impeditivos para a realização do exame.  

3. Quais aspectos psicológicos podem influenciar a decisão dos homens de realizar o exame de toque retal?

Várias coisas podem funcionar como fatores impeditivos para realização do exame, sendo os principais o preconceito, o machismo e as crenças distorcidas acerca do exame. Por ser realizado numa zona considerada “íntima” por muitos homens, que é a região anal, o exame traz uma carga negativa muito forte entre eles. Por exemplo, muitos acreditam que fazer o exame poderá mudar sua sexualidade (diante de pessoas conhecidas), que o tornará vulnerável e que sua masculinidade será colocada à prova, quando a realidade é bem diferente. O exame do toque retal é um exame como qualquer outro, realizado com técnica e profissionalismo. Nada além do câncer de próstata está sendo avaliado, então eles não precisam se preocupar em se tornarem mais ou menos homens por aceitar realizar o exame.

4. Como a Psicologia da Saúde pode contribuir para que os homens tenham comportamentos de saúde e como pode ajudar na prevenção do câncer de próstata?

Não se pode deixar de pensar nos constrangimentos que muitos homens sentem ao realizar o exame, mesmo aqueles que procuram ser mais racionais frente à sua realização. Por conseguinte, não há como desconsiderar aspectos simbólicos que interferem na intenção e decisão de realizar o exame, uma vez que o toque retal pode ser visto como comprometimento da virilidade e da masculinidade. Dentro desse contexto posso dizer que a Psicologia da Saúde tem sido usada para explicar comportamentos de saúde, contribuindo assim para a melhor compreensão desses comportamentos. Nesse sentido, as pesquisas da área da Psicologia da saúde podem orientar campanhas e ações em saúde, direcionando-as de forma mais eficaz.
Ressalto ainda a importância da Psicologia da Saúde na investigação de comportamentos protetivos e preventivos relacionados a saúde do homem e de qualquer outro público, pois a mesma considera todos os aspectos (psicológicos, clínicos e fisiológicos) e contribui para a promoção e manutenção da saúde, prevenção e tratamento de doenças, e identificação de relações etiológicas e diagnósticas de saúde.

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