Síndrome de Burnout em Médicos Intensivistas: Estudo em UTIs de Sergipe


Almeida, S. P., Araújo, M. R. M., Barreto, A. L. P., Barros, M. M. S., Faro, A., Faro, S. R. S. (2016). Síndrome de Burnout em médicos intensivistas: estudo em UTIs de Sergipe. Temas em Psicologia, n.1, 377-389. doi: 10.9788/TP2016.1-26

Resenhado por Uquênia Lemos

O exercício da medicina intensiva é permeado por tarefas árduas e desgastantes, realizadas numa organização de trabalho com carga horária excessiva, ritmo intenso de atendimentos, controle rigoroso das atividades, pressão temporal e necessidade de profissionais polivalentes, além de estarem num ambiente com estímulos emocionais intensos, como: o adoecer, a dor e o sofrimento. Diante disso, os médicos intensivistas podem vivenciar uma insatisfação profissional no seu cotidiano, assim como um adoecimento físico e psicológico, ocasionando doenças, tais como: transtornos mentais comuns (depressão, ansiedade), estresse, e, em particular, a síndrome de burnout.
A síndrome de burnout é uma resposta ao estresse crônico, quando falham as estratégias de enfrentamento que, normalmente, o indivíduo emprega para lidar com os estressores laborais. Ela é composta pelas dimensões: Realização Pessoal (RP), que se refere à tendência do profissional em se avaliar negativamente, gerando sentimentos de incompetência e baixa autoestima, o que afeta a realização do trabalho e a relação com os pacientes; o Esgotamento Emocional (EE), que ocorre quando o médico passa a se defender contra a carga emocional derivada do contato direto com outras pessoas, não conseguindo dar mais de si mesmo a nível afetivo; e a Despersonalização (DE), quando o profissional passa a ter um endurecimento afetivo, desenvolvendo sentimentos negativos, de atitudes e condutas de cinismo voltadas a usuários do trabalho. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi identificar a presença da síndrome de burnout junto aos médicos intensivistas do Estado de Sergipe, além de possíveis preditores da síndrome.
Foram utilizados um questionário para caracterização sociodemográfica, laboral e psicossociais da amostra e o Maslach Burnout Inventory - Human Services Survey (MBI-HSS). O instrumento contém 22 questões, sendo nove relativas à dimensão EE, cinco à DE e oito à RP. A amostra foi composta por 122 médicos intensivistas, atuantes em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) há, no mínimo, seis meses. Os participantes eram predominantes casados (61,5%), com filhos (66,4%) e idade média em 38,7 anos (DP = 8,39), não havendo predominância de sexo (50,8% do sexo masculino). Os resultados indicam altos níveis de EE (66,4%) e DE (54,9%), em contrapartida a dimensão RP (67,2%) apresentou-se majoritariamente em nível baixo. Observou-se, então, que 42,6% (n = 52) dos participantes se encaixavam no diagnóstico positivo para a síndrome de burnout e os preditores identificados foram: trabalhar na UTI por necessidade, sentir-se sobrecarregado, vivenciar uma relação estressante com colegas de trabalho, além de não utilizar o horário livre para assistir TV ou para dormir.
Por fim, ressalta-se a importância da Psicologia da Saúde na promoção de estratégias de enfrentamento protetivos e preventivos junto a estes profissionais, a partir do desenvolvimento de programas de prevenção e promoção de saúde necessária para trabalhar questões de relacionamentos interpessoais, carreira profissional, desempenho de atividades e aproveitamento de horas livres.


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