Avaliação Psicológica no Brasil

Noronha, A. P., & Reppold, C. T. (2010). Considerações sobre a Avaliação Psicológica no Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão30(spe), 192-201doi: 10.1590/S1414-98932010000500009.

Resenhado por Laís Santos

Avaliação psicológica envolve um processo amplo de coleta de informações, interpretação de dados, testagem de hipóteses clínicas e elaboração de diagnósticos, os quais são realizados através do uso de instrumentos psicológicos com o objetivo de descrever e fazer predições sobre o comportamento, desempenho e funcionamento de indivíduos e/ou grupos. Inicialmente, seu surgimento esteve associado ao da Psicologia. No Brasil, a partir da segunda metade da década de 1990, movimentos realizados por pesquisadores e profissionais da área foram decisivos para a consolidação e aprimoramento da avaliação psicológica. Como exemplo, pesquisadores, por intermédio do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP) ajudaram o Conselho Federal de Psicologia a implantar em 2003 o Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (SATEPSI).
Com a criação desse sistema, passou-se a avaliar os testes psicológicos disponíveis para uso profissional, classificando-os como aptos ou inaptos. Todavia, muito além de um parecer favorável ou não, com o SATEPSI passaram a elaborar critérios de avaliação baseados em parâmetros internacionais com a finalidade de aferir a adequação de tais instrumentos para uso profissional, visto que grande parte dos processos direcionados à área se relacionavam ao mau uso de instrumentos psicológicos – como, por exemplo, a elaboração de laudos. Outros marcos significativos para a consolidação da área foram a criação da Revista Brasileira de Avaliação Psicológica em 2002 e a de dois institutos (a Associação Brasileira de Rorschach e outros métodos projetivos em 1993 e a IBAP em 1997) com o objetivo de desenvolver e promover a avaliação psicológica no país.
Sabe-se que a avaliação psicológica surgiu precocemente associada às demandas sociais da época mesmo antes da regulamentação da Psicologia enquanto profissão no Brasil, o que veio a acontecer somente a partir da lei 4119 de 1962. No entanto, apesar dos constantes avanços, a avaliação psicológica no Brasil ainda está distante do padrão de excelência das grandes potências mundiais na área. Muito dessa defasagem se deve as carências profundas na formação acadêmica dos estudantes e profissionais de psicologia.
Em 2004, com as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia, deixou-se de ser exigido um currículo mínimo, passando então as instituições a terem maior liberdade de adequar as grades de conteúdo. Como consequência, houve uma diminuição da carga horária e quantidade de disciplinas voltadas para a avaliação psicológica. Ainda, em muitas universidades as disciplinas de avaliação carecem da associação entre teoria, prática e reflexão crítica a respeito da escolha dos instrumentos mais adequados, por exemplo. Muito mais do que simplesmente ensinar princípios básicos de aplicação, correção e interpretação dos resultados, o estudante e especialmente o profissional de Psicologia devem refletir acerca do uso correto e responsável de instrumentos psicológicos, bem como sobre a devolutiva dos resultados e elaboração de laudos técnicos, uma vez que tal prática tem papel decisivo na vida dos indivíduos e grupos, por exemplo, em contextos de avaliação profissional. Assim, independente da afinidade teórica que o profissional de psicologia utilize como parâmetro de atuação profissional, fazem-se necessários avanços teóricos, práticos e principalmente críticos quanto à avaliação psicológica, uma vez que esta é pré-requisito imprescindível para qualquer ação de intervenção e diagnostico situacional.

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