Solidão e depressão em adultos


Barroso, S. M., Baptista, M. N., Zanon, C. (2018). Solidão como variável preditora na depressão em adultos. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 9(3supl), 26-37. doi: 10.5433/2236-6407.2018v9n3suplp26

Resenhado por Laís Santos

A depressão é um transtorno mental de elevada prevalência mundial. Fatores de personalidade, tais como o neuroticismo e fatores comportamentais como o consumo de álcool e outras drogas, maus hábitos e o sedentarismo, associam-se positivamente à presença de sintomas depressivos e ansiosos. Estima-se que a solidão seja outro aspecto que se relaciona a maior presença de sintomas depressivos, ansiosos e à ideação suicida. Sabe-se que a solidão se associa a quantidade e a qualidade que uma pessoa percebe os seus relacionamentos interpessoais e os que gostaria de ter. No Brasil, pesquisas sobre o impacto da solidão sobre a depressão ainda são recentes e pouco presentes. Com isso, este estudo avaliou o papel preditor da solidão frente à depressão em adultos quando controlados fatores, tais como a ansiedade e o neuroticismo. Participaram do estudo 297 estudantes universitários (70%; n = 208 eram mulheres), de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, com idades entre 17 e 76 anos. Os instrumentos utilizados foram a Escala Baptista de Depressão (Versão Adulto) (EBADEP-A), a Depression, Anxiety and Stress Scale (DASS-21), a Escala Brasileira de Solidão UCLA (UCLA-BR), o Inventário de Saúde Mental de 5 itens (MHI-5), o Inventário dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade (IGFP-5) e um questionário sociodemográfico e clínico.
            Os resultados gerados a partir de regressão múltipla hierárquica em três passos, revelaram que o modelo 1 (variáveis sociodemográficas) explicou aproximadamente 10% da presença de sintomas depressivos. Ao acrescentar o neuroticismo e outras psicopatologias ao modelo, houve o aumento de 60% da capacidade preditiva, somando então 70%. Por último, o modelo 3 (acréscimo da solidão) adicionou 1% de variância exclusiva do modelo total explicado, que somou o total de 71%. Observou-se que na amostra em questão os fatores de maior impacto foram o índice de saúde mental e a solidão, sendo que esta última permaneceu significativa mesmo controlando outros aspectos. A presença de fatores múltiplos de impacto na depressão era algo esperado frente a complexidade de tal transtorno. Especificamente quanto à solidão, constatou-se que tal construto atua como um importante fator preditor da depressão, embora não tenha adicionado grande variância explicativa ao modelo testado. Sugere-se a realização de pesquisas com amostras de outras faixas etárias tais como a infância e adolescência, a fim de avaliar o impacto preditor dessa variável em diferentes fases do desenvolvimento. Para a Psicologia da Saúde, identificar quais fatores exercem maior impacto no surgimento de transtornos mentais comuns, especificamente a depressão é extremamente importante, principalmente no que concerne a elaboração de estratégias de intervenção e prevenção dessas patologias.

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