Motivações, dificuldades e expectativas acerca da Adoção: Perspectivas de futuros pais adotivos
Araujo, A. I. D. S. F., & Faro, A. (2017).
Motivações, dificuldades e expectativas acerca da adoção: Perspectivas de
futuros pais adotivos. Psicologia em Revista, 23(3),
790-810.
Resenhado por Maísa Carvalho
O exercício da parentalidade, seja de
forma solitária ou conjunta, representa para muitos uma das maiores realizações
pessoais. Em casos onde não é possível conceber um filho pela via biológica,
tem-se a adoção como uma alternativa a ser considerada. Todavia, sabe-se que além
da lentidão do processo, os postulantes se deparam com uma série de questões
culturais e idiossincrásicas que podem facilitar ou causar entraves a esse
desejo.
O presente trabalho buscou apreender as
motivações, dificuldades e expectativas de futuros pais relacionadas à adoção.
A pesquisa contou com a participação de 13 pretendentes cadastrados na Vara da
Infância e da Juventude da comarca de Aracaju/SE, os quais deveriam obedecer ao
único critério de seleção imposto: adotar pela primeira vez. A coleta de dados
se deu através de entrevistas abertas que se ancoravam em 4 eixos temáticos:
motivações quanto ao processo de adoção; preferências quanto às características
da criança a ser adotada; expectativas concernentes à adoção e receios em torno
da adoção.
No que se refere ao perfil dos
entrevistados, foram 85% (n = 11) do
sexo feminino, 70% (n = 9) casados,
15% (n = 2) divorciados e 15% (n = 2) solteiros. Quanto às
características da criança, 53,8% (n =
7) participantes apontaram não ter preferência e 46,2% (n = 6) preferiam meninas. Para a idade, 15% (n = 2) desejavam com até 04 anos de idade e um dos candidatos (15%)
optou por adotar uma criança com até 06 meses. Com relação a cor da pele, 8
preferiam cor branca ou parda, 2 optaram pela cor preta e 3 foram indiferentes.
A análise dos dados foi feita através do
IRAMUTEQ, software que realiza análises léxicas através de um corpus textual.
Dentre as análises disponíveis, os autores optaram pela Classificação
Hierárquica Descendente (CHD), a qual gerou 4 classes, a saber:
Classe 1 - O
desejo pela adoção (36,4%): Nesta classe surgiram questões abrangentes sobre o
desejo de ser pai/mãe, a infertilidade/esterilidade como aspecto propulsor à
ideia de adotar, o desejo de dar uma família a uma criança e de ter um filho
pela adoção.
Classe 2 - Dificuldades,
receios e mitos frente à adoção (34,5%): Diz respeito às dificuldades com os
futuros filhos, além dos mitos e receios que circundam a temática da adoção. É
importante pontuar que a maioria dos participantes não mencionaram dificuldades
quanto à chegada do filho desejado, demonstrando certa idealização de relação
entre pais e filhos. O receio quanto à adoção tardia e a história pregressa da
criança também foram abordados.
Classe 3 - Expectativas
em torno da adoção (29,1%): Os conteúdos que emergiram nesta classe se referem
às expectativas que os pretendentes possuem em torno da adoção, bem como a
ansiedade diante da lentidão do processo e a relevância do acompanhamento profissional
(em especial, com psicoterapeutas) para o amadurecimento pessoal. A
participação em grupos de apoio foi um aspecto mencionado por alguns adotantes
e uma sugestão reiterada pelos autores.
Na
adoção, a concepção se inicia desde o preenchimento do perfil pretendido e a
vinda da criança, assim como o nascimento, costuma ser muito esperada e repleta
de sensações diversas. Sendo assim, o acompanhamento psicológico se faz
necessário, posto que o bom ajustamento psíquico prepara os pais para o
amadurecimento da decisão de adotar, bem como para auxiliá-los a exercitar
estratégias de enfrentamento para lidar com as dificuldades que possam surgir.
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