Mudanças na Autoeficácia Parental e nos Sintomas de Humor na Transição para a Paternidade: Uma associação bidirecional


Kunseler, F. C., Willemen, A. M., Oosterman, M., & Schuengel, C. (2014). Changes in parenting self-efficacy and mood symptoms in the transition to parenthood: A bidirectional association. Parenting14(3-4), 215-234. Doi: 10.1080/15295192.2014.972758

 

Resenhado por Daiane Nunes

 

A autoeficácia parental, definida como a crença dos pais acerca da sua capacidade de exercer com sucesso práticas parentais, é considerada um importante construto cognitivo durante a transição da gravidez para a paternidade. Há evidências do seu papel na adaptação à maternidade, aos estilos e práticas parentais e aos resultados infantis. Além disso, sintomas de ansiedade e depressão relatados nesse período foram associados a níveis rebaixados de autoeficácia dos pais. No presente estudo, avaliou-se a direção dos efeitos entre as mudanças na autoeficácia de mães e os sintomas depressivos e de ansiedade desde a gravidez (primeira gestação) até um ano após o parto.

A amostra final do estudo foi constituída por 822 gestantes, com idade média de 30,1 anos. A maioria era casada (43%) ou vivia com o companheiro (53%). As mulheres que aceitaram participar da pesquisa receberam os questionários na 32ª semana de gestação (T1), três meses (T2) e doze meses (T3) após o nascimento do filho. Utilizou-se uma escala de autoeficácia parental que mede as expectativas pré e pós-natal das mulheres sobre sua competência em cuidar de seus filhos. Os sintomas depressivos foram avaliados pelo Inventário de Depressão de Beck – Segunda Edição (BDI-II) e os sintomas ansiosos pelo Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE).

Os níveis de autoeficácia parental na transição para a maternidade aumentaram, com aumento significativamente maior do T1 para o T2, do que do T2 para o T3. Os níveis de ansiedade avaliados pela subescala de estado diminuíram do T1 para o T2 e permaneceram estáveis entre T2 e T3. A ansiedade-traço também diminuiu de T1 para T2, mas aumentou novamente de T2 para T3. Com relação aos sintomas depressivos, observou-se diminuição continuada entre os diferentes momentos de coleta dos dados. Níveis mais elevados de autoeficácia no período pré-natal previram menor presença de sintomatologia depressiva na transição para a maternidade. A mesma tendência foi observada para os níveis de ansiedade, isto é, pontuações mais altas de autoeficácia foram significativamente relacionadas à maior diminuição nos níveis de ansiedade de T1 para T2, sendo essa relação bidirecional. No entanto, de T2 para T3 os efeitos entre as variáveis não foram estatisticamente significativos.

Em resumo, o presente estudo demonstrou que para a maioria das participantes, os efeitos de reforço mútuo da autoeficácia parental e dos sintomas de humor levam a trajetórias positivas na transição para a maternidade (ou seja, aumentos na autoeficácia, diminuições nos sintomas de humor). Tais achados reforçam o relevante papel das crenças de competência pessoal para gerenciar demandas parentais, recomendando a realização de intervenções com ênfase no desenvolvimento de crenças positivas da autoeficácia nesse público. 



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