O que os terapeutas da Gestalt fazem na clínica?
What
do Gestalt therapists do in the clinic? The expert consensus
Fogarty, M., Bhar, S., Theiler, S., & O’Shea, L.
(2016). What do Gestalt therapists do in the clinic? The
expert consensus. British Gestalt Journal, 25, 32-41
Postado por Giulia
A Gestalt é uma abordagem
terapêutica holística com ampla gama literária e diversidade teórica, o que dificultou
a definição de um consenso acerca de seus conceitos característicos. Em
decorrência disso, observa-se certa dificuldade da comunidade gestáltica em
descrever as práticas clínicas que diferem essa abordagem das outras, o que
também representa uma ameaça para o futuro dessa abordagem.
Para dirimir esse problema, buscou-se
delinear oito princípios-chave da Gestalt terapia, tendo como base uma ampla
revisão da literatura e consultas com especialistas. O primeiro conceito-chave
encontrado foi o do desenvolvimento da consciência, considerado o maior
objetivo da terapia gestáltica e sendo central para todos os outros conceitos.
Esse desenvolvimento é alcançado através da exploração física e emocional das
experiências e criação de sentido para o mundo e as relações.
O segundo conceito central elucidado
foi o da perspectiva relacional, o qual, partindo da premissa de que a
experiência humana é moldada pelo contexto, foca em trabalhar a relação entre
terapeuta e paciente, as nuances do processo emocional e temas relacionais
duradouros. Para tanto, o terapeuta se compromete profundamente com o paciente,
sem que haja uma agenda a ser cumprida. O terceiro conceito diz respeito à
ênfase na experiência imediata, sendo este um material essencial para o
tratamento. Assim, os conteúdos levantados na sessão que façam referência ao passado
ou futuro são guiados para explorar comportamentos e afetos do presente.
Outro tema importante é o da prática
fenomenológica, que explora as situações trazidas para a terapia pelo
paciente. São investigados todos os aspectos da experiência subjetiva e é estimulada
uma linguagem descritiva que capte esses elementos. Busca-se manter aproximação
com a experiência do paciente e aprofundar os significados por ele atribuídos.
Além disso, a atenção aos aspectos corporais e o modo como emoções podem
culminar em reações somáticas também são fundamentos gestálticos. É
desenvolvida a autoconsciência corporal e a compreensão de como a expressão
física é reveladora a respeito do paciente.
A Gestalt também trabalha a prática
de campo, conceito que representa a análise de relações causais de tal modo
que qualquer evento ou experiência é tido como produto de diversos fatores que
emergiram no espaço de vida do cliente. Assim, as figuras de interesse não são
consideradas como entidades isoladas do contexto. São abordados três campos
importantes: o experiencial, o relacional e o sócio-histórico e cultural.
Os últimos dois conceitos-chave
elucidados no estudo foram o ciclo de contato e a atitude experimental. O
primeiro trata do desenvolvimento da autoconsciência através do foco nos
estilos de contato, auxiliando a compreender como se dá a formação de
caráter do indivíduo, sua relação com o ambiente na busca de atender
necessidades e a subsequente criação de significados, podendo, inclusive,
ajudar a identificar padrões relacionais não saudáveis. Por fim, a atitude
experimental é um processo que utiliza conteúdos que emergem no encontro
terapêutico para testar novos comportamentos com potencial para produzir novas
significações e aprofundar a autoconsciência do paciente. É importante
ressaltar que esses conceitos são base para a maior parte das sessões clínicas
da Gestalt e não necessariamente serão trabalhados de forma isolada, é provável
que em uma única sessão sejam utilizados mais de um deles. Esses conceitos
também podem beneficiar a Psicologia da Saúde, norteando suas práticas futuras.
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