A diferença entre depressão e tristeza

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Postado por Mariana Menezes

A reportagem a seguir foi cedida pela psicóloga e psicoterapeuta Andreia Calçada que é especialista em psicologia clínica e psicopedagogia e ainda pós-graduada em psicologia jurídica, além de autora de livros de psicologia jurídica como 'Perdas Irreparáveis - Alienação parental' e 'Falsas acusações de abuso sexual'. A presente reportagem toma como tema a depressão. A reportagem nos permite entender como a depressão se distingue do luto e da tristeza. Pois muitas pessoas confundem, além de que essa distinção é muito importante para a formulação do diagnóstico. A reportagem nos mostra o que caracteriza um paciente que está com depressão, quais são os seus sintomas característicos e apresenta possíveis tratamentos.


O atendimento a pacientes com depressão nos coloca em proximidade a algo que surpreende pela intensidade e pode ajudar a diferenciar a depressão da tristeza. Tal diferenciação é extremamente importante para realização do diagnóstico e para que o cidadão comum busque ajuda especializada, caso necessário. Estima-se que 15 a 20% das pessoas tenham ou possam vir a apresentar depressão durante a vida. 
A fala de um paciente em depressão nos traz uma visão de mundo limitada associada à sensação de "falta de saída" que se alonga de forma  continuada.  "A fala do paciente que saiu de uma depressão gira em torno de expressões  como: 'não consigo sair de outra como aquela', ou não sobrevivo à outra depressão" ou ainda "me mato se sentir algo parecido com aquilo". Um universo negro desenhado na percepção do indivíduo em depressão. 
Diferentemente deste paciente, temos a pessoa que passa por momentos de tristeza, assim como passa por momentos de alegria.  A tristeza  é um sentimento normal que faz parte da vida psíquica dos seres humanos, e é reposta a situações de perda, frustração e desapontamentos. Faz parte de um processo normal de adaptação a situações de vida, já que o retraimento decorrente faz a pessoa poupar energia e recursos bem como reavaliar a vida e as condições que a levaram a vivenciar tal sentimento. É a ausência de satisfação pessoal quando o indivíduo se depara com sua fragilidade, e é importante para reavaliar a própria vida. É também uma forma de mostrar a quem está de volta que precisa de acolhimento.
De acordo com Porto (1999), o luto normal pode se estender por até um a dois anos e deve ser diferenciado da depressão. Segundo ele, o luto normal se caracteriza pelo sentimento de profunda tristeza, exacerbação da atividade simpática e inquietude.  As reações de luto normal devem ser diferenciadas  dos quadros depressivos propriamente ditos. No luto normal a pessoa usualmente preserva certos interesses e reage positivamente ao ambiente,  quando devidamente estimulada. 
Segundo ele, não se observa, no luto, a inibição psicomotora característica dos estados melancólicos. Os sentimentos de culpa, no luto, se limitam a não ter feito todo o possível para auxiliar a pessoa que morreu; outras ideias de culpa estão geralmente ausentes. Já na depressão este processo de tristeza se alonga e tende a piorar provocando prejuízos na vida de quem é portador da doença.  A vida é afetada  em diversos aspectos:  pessoal  e  profissionalmente. O aspecto antes apresentado como adaptativo perde esta função gerando ampliação dos sentimentos depressivos.
É importante a atenção aos sintomas da depressão para que se busque tratamento. A Depressão é uma doença, e assim precisa ser entendida e  tratada, em suas expressões leve, moderada e grave. As sensações de tristeza são intensas e acompanhadas de pensamentos e sentimentos de autodesvalorização e culpa. 
Fadiga extremada e ausência de  prazer. Cognitivamente a alteração da atenção, concentração e dos processos de pensamento são presentes. O sono é alterado e perde a função de repor energia para que possa ser utilizada durante o dia, gerando lentidão e dificuldade de realização de atividades antes realizadas com facilidade. A pessoa deprimida perde o apetite, ou pode comer em excesso se tiver ansiedade associada. A sexualidade também é comprometida, pois o interesse sexual é diminuído. Em função de todas estas mudanças, o comportamento da pessoa com depressão sofre diversas modificações. A tristeza e o choro são frequentes, o desânimo  é intenso, há dificuldades na interação social e a pessoa se retrai. Muitas vezes a irritabilidade também persiste. Com o tempo as pessoas se afastam por não perceberem retorno da pessoa em depressão e gera-se então um ciclo vicioso. 
A pessoa se sente rejeitada e se isola mais ainda. A depressão é causada por uma interação de fatores psicológicos, ambientais, genéticos e sociais. Os pensamentos são parte importante do processo  depressivo.  As crenças centrais são formadas sobre si mesmo na interação com o meio em que se vive, gerando pensamentos e sentimentos negativos, que geram comportamentos disfuncionais. 
Como exemplo, temos alguém que possui a crença de "incapacidade". Esta possui pensamentos que lhe dizem que é  incapaz e sentimentos que lhe trazem esta impressão.  Terá medo de agir e se mostra com medo de errar.  Como consequência não investirá a energia  necessária para a realização de projetos e por fim sua profecia poderá enfim se auto realizar: "Realmente não sou capaz!". A tendência agora é o isolamento e a diminuição do investimento energético na vida, em um ciclo vicioso. Este é um processo importante da depressão. Portanto a intervenção em uma pessoa com depressão deve ser ampla. A psicoterapia deve abordar seus processos de pensamento e sentimentos bem  como sua vida como um todo.
A intervenção medicamentosa se faz necessária. A mudança de hábitos como a alimentação, a realização de exercícios físicos  deve ser efetivada.  A família deve ser inserida neste processo. A depressão pode vir associada a outras doenças, é o que chamamos de co-morbidade.  O diagnóstico bem feito é importante para o tratamento adequado. Enfim, a boa notícia e que a depressão tem tratamento, porém precisa de empenho e cuidado  em sua abordagem. 
 

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