Divisão de classes sociais no consultório: A teoria da classe psicossocial e depressão

Resenhado por Lucila Moraes

Storck, L.E. (1998). Social Class Divisions in the Consulting Room: A Theory of Psychosocial Class and Depression. Group Analysis 31: 101.

O objetivo do estudo foi o de renomear e redefinir a classe social para psicoterapia como uma classe psicossocial; analisar a teoria da ‘posição social’ da depressão para indivíduos; além de propor uma extensão da teoria da classificação social para comportamentos grupais, com o objetivo de sugerir novas teorias de intervenções grupais que abordam a dinâmica da classificação social da depressão.
Por causa da divisão de classes sociais, alguns dos pacientes sentem-se cronicamente ‘desempoderados’ (sem poder), devido tanto ao ‘ranking’ da classe social quanto ao grupo minoritário ao qual pertencem. O que se propõe é que essa divisão da classe social seja dirigida na terapia de grupo, onde uma pequena cultura é criada entre indivíduos na qual cada sujeito é influenciado pela cultura grupal pertencente.
Os psicólogos e psicoterapeutas, apesar de terem conhecimento de que pessoas de classes sociais inferiores sofrem mais doenças mentais e físicas, não sabem a fundo a dinâmica comportamental e valores atribuídos à classe social. Portanto, para expandir a perspectiva psicológica de tal nomeação, a autora sugere que se use o termo classe psicossocial ao invés de classe social. A classe psicossocial definiria, portanto, a educação e ocupação de um sujeito, correlacionado com seu comportamento, sua maneira de pensar e sentir. Corresponderia com a atitude e expectativa de um sujeito em relação a sua própria vida, ou seja, os sistemas de valores com o qual ele conduz sua vida social.
A Teoria da Classificação Social é uma perspectiva evolucionária do comportamento que analisa o comportamento individual e interpessoal. A Teoria da Classificação Social afirma que dentro de qualquer grupo onde haja competição e conflito por recursos, alguns indivíduos vão inevitavelmente ‘ perder’ e se tornarão mais cautelosos e menos confiantes. A teoria passa a prever que certos comportamentos prejudiciais à saúde dos indivíduos, como a depressão, possam ser um comportamento adaptativo no qual, o individuo ao se perceber como ‘ perdedor’ passa a cultivar baixa autoestima, o que o torna mais vulnerável a doenças como a depressão.
Com isso, é proposto um novo modelo de terapia psicanalítica tradicional de longo prazo que abordam classificação social e dinâmica de classe psicossocial, modificando aspectos tais como: discussão de valores devido às diferenças valorativas dentro do próprio grupo (como diferentes objetivos no trabalho ou obrigações familiares distintas); discussão direta das diferenças de classes sociais dentro do grupo (como diferentes ocupações ou escolaridades); avaliação internalizada e outros julgamentos direcionados ao próprio sujeito; ajudar o paciente a restaurar o posto (ou ‘rank’) perdido ou a redefinir expectativas de cada um; usar a matriz do grupo para permitir uma construção de hierarquia benéfica para sua comunidade e ambiente familiar e, por fim, fazer um contrato de tratamento a curto prazo e renovável (mais flexível).
A autora do estudo, Lauren Storck, propõe que a teoria da classificação social de comportamento interpessoal e depressivo possa ser aplicada a grupos de classe psicossociais e comportamentos grupais. Assim, pessoas de classes psicossociais mais baixas podem facilmente se sentirem marginalizadas, ignoradas e derrotadas simplesmente por participarem de uma classe psicossocial específica e esses pensamentos e sentimentos negativos entre grupos podem ser contribuidores tão importantes para a depressão quanto às experiências interpessoais e individuais da classificação social dentro de um mesmo grupo.
Acredita-se, portanto, que a terapia de grupo é o melhor tratamento para lidar com vários aspectos da depressão, por permitir intervenções dos efeitos debilitantes da classe psicossocial no dia-a-dia do individuo. O estudo indica um modelo de terapia analítica de grupo com objetivos para tratar de questões de classificação sociais e dinâmicas de classe psicossociais. Ao invés de um modelo valorativo, um modelo descritivo é mais útil para compreender os diferentes -mas não necessariamente piores- valores e comportamentos entre os diferentes grupos psicossociais, além de poder definir qual o tratamento que pode fornecer uma ajuda mais eficaz para alguns pacientes. Os psicólogos e terapeutas devem se esforçar para usar conflitos de forma construtiva e como forma de resolver o conflito diretamente, principalmente o que desrespeito a classe psicossocial em que o sujeito está inserido e sua relação com outras classes, por se tratar de um fator importante para o tratamento da depressão.


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