Ser mãe de criança autista
Resenhado por Thatianne Almico
Smeha, L. N. & Cezar, P. K. (2011). A vivência da maternidade de mães
de crianças com autismo. Revista Psicologia em
Estudo,
Maringá, 16, 43-50.
A
experiência da maternidade é para a mulher uma nova fase onde ela constrói fantasias
e expectativas em torno do bebê esperado. Os pais idealizam o filho perfeito e
saudável, pois depositam nele toda chance de realização de seus sonhos e
ideais. Enfrentar a realidade de ter um filho doente causa frustração,
sofrimento, confusão e medo, visto que as maiores responsabilidades recaem
sobre os pais, mesmo quando recebem o suporte de amigos, familiares e
profissionais de saúde.
O autismo é definido como um transtorno com causas
diversas e que compromete o processo de desenvolvimento infantil. Está incluído
entre os transtornos globais do
desenvolvimento e caracteriza-se por comprometimento em três áreas do
desenvolvimento: habilidades de interação social recíproca, habilidades
de comunicação e comportamento, interesses e atividades com padrões restritos e
repetitivos. A conduta de uma criança autista se caracteriza principalmente
pela incapacidade de estabelecer um sistema adequado de comunicação com o meio
social, além de encontrarem maior dificuldade em realizar as atividades ditas
comuns. Tais características acentuam a necessidade de cuidados e a dependência
para com os pais ou cuidadores. Dessa forma, para se adaptar às limitações e
necessidades específicas da criança com autismo, a família necessita de
constantes mudanças na sua rotina diária, o que pode constituir estressores em
potencial para os familiares.
O objetivo principal deste estudo foi compreender
como as mães de crianças com autismo percebem suas vivências com relação à
maternidade, e, mais especificamente, elucidar os sentimentos que perpassam
essa trajetória, desvelar as especificidades da rotina de cuidados com a
criança autista e, por fim, compreender como o acesso à rede de apoio
pode repercutir nas vivências da maternidade. Para isso foram investigadas as
histórias de quatro mulheres (entre 32 e 39 anos), abrangendo as suspeitas
iniciais em relação ao autismo do filho (idades entre 6 e 10 anos), o momento
da confirmação do diagnóstico, a realidade atual da criança e as expectativas
das mães em relação ao futuro. Para a
coleta de dados foram feitas entrevistas semiestruturadas, aplicadas
individualmente, com duração de mais ou menos uma hora e em locais escolhidos
pelas participantes.
Em relação a categoria que se refere à vivência da
maternidade, compreende-se que o momento da confirmação do diagnóstico de
autismo do filho é crucial para a família, em especial para a mãe, que
precisará se dedicar aos cuidados com a criança. Tal situação pode desencadear
inúmeros sentimentos, que, por sua vez, podem fragilizar a vivência da
maternidade. Observou-se também no discurso de todas as mães, que estas já
observavam algo de diferente no comportamento dos filhos, antes mesmo do
diagnóstico. Diante da confirmação do diagnóstico de autismo, todas relataram
vivenciar uma cascata de sentimentos, cada uma de forma singular. Perceber as
características autistas no filho gera angústia nas mães, é a partir de então
que se percebe a diferença entre a criança esperada e a real.
Após o momento do diagnóstico, os pais correm atrás
de soluções na expectativa de que o filho seja curado. A discriminação e o
preconceito para com a criança são também sentidos pela mãe, que se sente
fragilizada no cuidado com o filho, desse modo o cuidado passa a ser sua prioridade,
cuja principal finalidade é proteger o filho. Diante disso, as mães precisam
contar com o auxílio de outras pessoas ou instituições para conseguirem dar
conta da sobrecarga de cuidados com a criança autista. O papel fundamental do
suporte social seria auxiliar essas mães a fim de que elas possam vivenciar a
maternidade da melhor maneira possível. No discurso das mães, a família se
destaca como principal fonte de suporte. Ressalta-se também o apoio religioso
às mães de crianças, pois acreditar em Alguém superior torna a vivência da
maternidade uma experiência mais tranquila.
Apesar de todo apoio recebido, a situação limitante
do filho desperta nas mães muitas incertezas, principalmente em relação ao
futuro da criança e a seu desenvolvimento. Entretanto, a partir dos relatos das
mães, observou-se que o importante para elas é que o filho seja feliz, e o fato
de eles serem ainda crianças parece ampliar as expectativas positivas com
relação ao futuro. Conclui-se que em face dos questionamentos referentes às
práticas maternas, é preciso criar estratégias de intervenção e possibilitar a
estas mulheres um espaço no qual elas possam ser escutadas, trocar
experiências, compartilhar sua dor e sofrimento e amenizar suas angústias e
incertezas.
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