Associação da qualidade de vida com dor, ansiedade e depressão
Resenhado por Laís Almeida
Capela, Cristina, Marques, Amélia Pasqual, Assumpção, Ana, Sauer, Juliana Ferreira, Cavalcante, Alane Bento, & Chalot, Suellen Decario. (2009). Associação da qualidade de vida com dor, ansiedade e depressão. Fisioterapia e Pesquisa, 16(3), 263-268.
Os
autores começam o artigo explicando que a qualidade de vida relacionada à saúde
pode ser definida como a percepção de um indivíduo sobre sua própria condição
de bem-estar nas esferas do trabalho, cultura e valores, incluindo seus
objetivos, expectativas e interesses pessoais. Uma dor crônica pode causar a
redução de funcionalidade no paciente e com isso comprometer sua qualidade de
vida, o que levou os autores a pensar na hipótese de que há associação entre
qualidade de vida e dor, ansiedade e depressão; e quanto mais intensos os
sintomas, pior é a qualidade de vida. O objetivo do estudo, portanto, é
averiguar a associação entre esses fatores em indivíduos de 25 a 60 anos.
Foi
realizado um estudo transversal com 304 participantes que sofrem de
fibromialgia. Esses pacientes foram divididos em três grupos: 1- dor esporádica
(DE, nº 47); 2- grupo dor localizada ou regional (DR, nº 151) e 3- grupo dor
difusa e crônica (DDC, nº 106). A intensidade da dor foi avaliada por uma
escala analógica visual (EVA); o nível de ansiedade pelo inventário de
ansiedade traço-estado (Idate) de Spielberger; o nível de depressão pela escala
Beck de depressão e a qualidade de vida relacionada à saúde pelo Medical
Outcome Study Short-Form 36 Health Survey (SF-36).
Nos
três parâmetros avaliados – dor, ansiedade e depressão – os valores mais altos
corresponderam ao grupo dor difusa e crônica e os menores ao grupo dor
esporádica, com diferença significante. E com relação à qualidade de vida, os
escores médios mais baixos também corresponderam ao grupo DDC. Na verificação
de correlações entre qualidade de vida versus
dor, ansiedade e depressão, encontrou-se correlação negativa entre QV e todas
as variáveis, sendo a mais forte entre QV e depressão. Então, de acordo com os
resultados, quanto maior a intensidade desses sintomas, pior é a qualidade de
vida dos indivíduos e os sintomas são mais intensos no grupo com dor de
característica difusa e crônica.
Os
autores ressaltam que a dor é hoje considerada um importante problema de saúde
pública, pois atinge a população adulta com alta prevalência e é uma das
principais causas de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho. Ela
é o sintoma mais persistente relatado nos serviços de saúde que oferecem os
primeiros cuidados e é frequentemente acompanhada por sintomas de depressão e
ansiedade. Portanto, melhorar a qualidade de vida do paciente é tão importante
quanto melhorar o quadro clínico.
Cerca
de 10 a 15% dos pacientes têm depressão, o que pode gerar incapacidade e piora
da qualidade de vida. Já que, segundo Berber
et al., a depressão costuma aumentar a sensação de dor e incapacidade,
tornando a adesão ao tratamento mais difícil e piorando a qualidade das
relações sociais. Com isso, ele tende ao isolamento e a sentir-se frustrado.
Nesse
estudo, os resultados mostram que o grupo com dor difusa e crônica tem índices
mais elevados de depressão quando comparado aos grupos DR e DE, mostrando uma
associação entre intensidade de dor e depressão. Vale salientar que 80,3% da
amostra foi composta por mulheres e de acordo com Poleshuck et al., mulheres têm maior risco tanto para dor quanto
para depressão do que os homens.
Os
indivíduos com DDC apresentaram níveis mais elevados de ansiedade quando
comparados aos dos demais grupos. Eles observaram que os sujeitos com os níveis
mais altos relatam dor, distúrbios do sono e angústia frequente, e também
bebem, fumam mais e são mais obesos e sedentários. Para Macfarlane et. al., a ansiedade está associada à dor difusa e
crônica; e os autores sugerem que os médicos deveriam encaminhar os pacientes a
uma avaliação para verificar se os sintomas relatados são de caráter físico ou
psicossomático.
Com
o presente estudo também notou-se que os indivíduos com dor difusa e crônica
têm pior qualidade de vida quando comparados aos que apresentam dor regional ou
esporádica. E a verificação de que mais de um terço da amostra (35%) apresentou
dor difusa e crônica, com predominância do sexo feminino, é compatível com a
literatura, a qual mostra que pertencer ao sexo feminino pode ser um fator predisponente
à presença de dor. A maior proporção de mulheres nesse estudo também pode ter
sido por elas costumarem procurar mais os centros de saúde e por seu predomínio
no trabalho doméstico, estando mais disponíveis ao contato telefônico
residencial.
Os
autores concluem o artigo mostrando a confirmação da hipótese e que a alta
prevalência de dor pode estar relacionada à presença de outros fatores
predisponentes como: gênero feminino, baixa escolaridade, ocupações não
remuneradas ou que exigem muito esforço físico. Os achados desse estudo mostram
a importância de programas multidisciplinares para abordar a dor e,
consequentemente, conseguir uma melhoria na qualidade de vida do paciente.
Sugerem, também, uma atenção especial na prevenção com os dois grupos com dor
menos intensa, pois estes já apresentam sintomas de ansiedade e depressão, além
de prejuízos na qualidade de vida.
Nenhum comentário: