Factors influencing the diabetes-specific health-related quality of life in children and adolescents with type 1 diabetes mellitus


Resenhado por Ariane de Brito


Lukács, A., Varga, B., Kiss-Tóth, E., Soós, A., & Barkai, L. (2014). Factors influencing the diabetes-specific health-related quality of life in children and adolescents with type 1 diabetes mellitus. Journal of Child Health Care, 18, 253–260. doi: 10.1177/1367493513486964


Trata-se de um estudo húngaro que objetivou avaliar como as variáveis ​​clínicas associadas ao diabetes estão associadas com a qualidade de vida (QV) em crianças e adolescentes com diabetes mellitus tipo 1 (DM1), e encontrar os fatores preditores de QV específicos para o diabetes e o controle de glicose no sangue.
DM1 é uma doença crônica auto-imune que geralmente ocorre na infância, adolescência ou início da idade adulta, mas que na verdade pode ter seu início clínico em qualquer idade. Crianças diabéticas com tratamento e cuidados adequados podem viver uma vida produtiva, assim como seus pares que não apresentam a doença​​. No entanto, o diabetes tem um impacto em vários aspectos da vida do paciente, o que torna relevante entender como a doença e as condições clínicas dos pacientes influenciam na sua QV.
Segundo os autores as medidas específicas de diabetes existentes geralmente avaliam o bem-estar físico, o estado de saúde dos pacientes, associado com o controle do diabetes, incluindo a adesão ao regime médico, controle da glicemia no sangue e o risco de complicações em longo prazo. Há poucas evidências de que medidas de QV sejam usadas ​​rotineiramente na prática clínica, mas que melhorar a qualidade de vida de pacientes diabéticos é um fator-chave no controle da doença.
O Pediatric Quality of Life Inventory 3.0 Módulo de Diabetes (PedsQL ™ 3.0 DM) foi desenvolvido para medir a QV específica para o diabetes em jovens com DM1. Neste estudo, ele foi utilizado e analisado a partir do autorelato de crianças e adolescentes DM1 sobre os fatores que influenciam na sua qualidade de vida. Outro aspecto analisado foi a aptidão cardiorrespiratória. Há evidência de que a aptidão cardiorrespiratória é reduzida em jovens com DM1 em comparação com seus pares saudáveis. A aptidão cardiorrespiratória refere-se às funções dos sistemas circulatório e respiratório, que proporciona suprimento adequado de oxigênio para os músculos durante um exercício prolongado.
Participaram do estudo 239 crianças e adolescentes (124 meninos e 115 meninas) com idade entre 8 e 18 anos, recrutados em acampamentos de verão para diabéticos. O tempo médio de diabetes foi de 5,64 anos nos meninos e 6,06 anos nas meninas. A hemoglobina glicada média (HbA1c) foi de 8,45 nos meninos e 8,96 nas meninas. Os acampamentos foram apoiados por fundações, isso possibilitou a participação de vários pacientes, independentemente da situação financeira de suas famílias.
Além do PedsQL 3.0, foi utilizado ainda o teste de shuttle run de 20m para medir a aptidão cardiorrespiratória (VO2max); e medidos o índice de massa corporal (altura e peso) e controle de glicemia no sangue dos participantes. Os últimos valores de dose de insulina e a HbA1c para este controle foram extraídos dos prontuários dos participantes durante o estudo. Para as análises estatísticas utilizou-se o SPSS 19.0.  
Os resultados indicaram que o sexo influenciou significativamente a QV, uma vez que, os meninos tiveram melhor percepção de QV do que as meninas (meninos (n = 124): 72.76 vs meninas (n = 115): 69,03; p = 0,019). O método de tratamento intensivo com insulina (“bomba de insulina”) também influenciou significativamente a QV. Foi encontrado ainda correlação significativa entre a QV específica para o diabetes e o VO2max de aptidão cardiorrespiratória (r = 0,435, p <0,001) e a HbA1c (r = - 0,185; p = 0,004). Na análise de regressão múltipla, o VO2max (p = 0,000) e o método da insulinoterapia intensiva/ bomba de insulina (p = 0,054) foram preditores independentes significativos da QV específica para o diabetes.
O controle da glicose no sangue, sexo, idade, dosagem de insulina, escores de IMC e o tempo do diabetes como variáveis ​​independentes não se mostraram significativas. Já na análise de regressão, com a HbA1c utilizada como variável dependente, o VO2max provou ser o único preditor significativo do controle de glicose no sangue (B = -0,093, SE(B) = 0,016, β = -0,353, t = -5,813 , p <0,001), com 12,5% da variância.
Foram examinados neste estudo os fatores que poderiam afetar a QV específica para o diabetes em crianças e adolescentes DM1. Segundo os autores, existem vários estudos na literatura avaliando a QV de jovens com DM1, mas não foram encontrados estudos que avaliassem em paralelo o efeito dos parâmetros clínicos e antropométricos do diabetes e à aptidão cardiorrespiratória em jovens diabéticos tipo 1.
Os principais resultados encontrados corroboraram com os achados de outros estudos (Kalyva et al., 2011; Naughton et al., 2008). Sabe-se que a principal tarefa da gestão de diabetes é alcançar o controle da glicose no sangue o mais próximo possível do normal.  O resultado do VO2max ter sido o único parâmetro preditivo para a HbA1c também sugere a importância do exercício físico aeróbio na obtenção e manutenção do bom controle glicêmico.
Como limitação, os autores mencionam dentre outros aspectos, o possível viés de seleção que limita a generalização dos resultados, apesar de toda a população infanto-juvenil dos acampamentos de verão tenha sido convidada a participar do estudo. Mesmo assim, o estudo pôde avaliar a qualidade de vida específica para o diabetes, a aptidão cardiorrespiratória, e as variáveis ​​clínicas e antropométricas, ao mesmo tempo, o que se mostrou bastante singular na literatura da área. Como conclusão, de modo geral, a melhor qualidade de vida específica para o diabetes está associada ao sexo masculino, ao tratamento com a bomba de insulina, controle glicêmico favorável e melhor VO2max.

Vale ressaltar que na Hungria, local onde foi realizada a pesquisa, o tratamento do diabetes com a bomba de insulina é financiado quase que totalmente pelo Seguro Nacional de Saúde húngaro, garantindo aos pacientes diabéticos essa alternativa de tratamento independente da situação financeira de suas famílias. 

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.