A relação entre estilo parental e o otimismo da criança
Resenhado
por Edryenne Amaral
Weber,
L.N.D., Brandenburg, O. J., & Viezzer, A. P. (2003) A relação ente o estilo
parental e o otimismo da criança. Psico-USF,
8(1), 71-79.
As pesquisas direcionadas aos aspectos
salutogênicos da vida começaram a surgir com o a proposição da Psicologia
Positiva. A partir desta abordagem, Seligman (1995) cunhou o termo
“imunologização” que é análogo à vacinação, ou seja, o ensino do otimismo é
considerado uma “vacina” contra a depressão. A partir de evidencias sobre a relação
entre estilo parental e o otimismo, objetivou-se neste artigo investigar se os
distintos estilos parentais influenciam e/ou contribuem para o crescimento do
otimismo em crianças.
A partir desse pressuposto, o referido
autor concluiu que ser otimista não se resume a ter pensamentos positivos. Além
disso, o otimismo se fundamenta na forma como as pessoas pensam sobre as causas
que explicam eventos bons e ruins. Assim,
existem três dimensões que explicam a ocorrência de um evento bom ou ruim: 1)
Permanência – relaciona-se a duração dos efeitos do evento; 2) Difusão –
refere-se à quantidade de efeitos do evento que se propaga para outras
situações; 3) Personalização – trata da atribuição da causalidade a fatores
externos ou internos.
Verifica-se que o estilo explicativo dos
eventos é aprendido durante a infância a partir da maneira como os pais
explicam os acertos e erros dos seus filhos e também pela observação, ou seja, a
criança observa e tende a imitar o modo como os pais explicam os eventos. Com
isso, é interessante estudar o relacionamento de pais e filhos através do
estilo parental. Este é um modelo de comportamento parental manifestado dentro
de um clima emocional gerado pelo conjunto das atitudes dos pais que inclui as
práticas parentais e demais aspectos da interação pais-filhos.
Inicialmente Baumrind (1966) propôs três
estilos parentais, mas Maccoby e Martin (1983) dividiram um dos estilos em
dois, resultando em quatro, são eles: Pais autoritativos – é um estilo parental
que encontra o equilíbrio entre as orientações dos pais e os próprios interesses
da criança, é denominado como democrático e recíproco por alguns teóricos; Pais
negligentes – os pais não se envolvem com os seus papeis, cedem sempre aos
interesses da criança; Pais permissivos (subdividiu-se em indulgentes e
negligentes) – tentam se comportar de forma não punitiva e receptiva frente os
desejos da criança; Pais autoritários – esse estilo tende a modelar, controlar
e avaliar o comportamento da criança através de regras de conduta previamente
estabelecidas. Após a modificação feita em 1983, os estilos passaram a ser definidos
pelas dimensões de exigência (pais que controlam o comportamento dos filhos) e
responsividade (pais amorosos, capazes
de responder aos pontos de vista e razoáveis exigências dos filhos).
A pesquisa foi conduzida em duas escolas
da região de Curitiba com 240 alunos da quarta série (quinto ano), de nove a
dez anos. Os instrumentos utilizados foram o Questionário de Estilo de
Atribuição Comportamental de Crianças (Children’s
Attributional Style Questionnaire – CASQ) que mede o otimismo da criança e
as Escalas de Exigência e Responsividade para avaliar os estilos parentais. Os
resultados da frequência (obtida através da soma dos escores obtidos do pai e
da mãe) dos estilos parentais mostrou que 38,3% dos pais são autoritativos;
38,3% são negligentes; 11,4% indulgentes; 12,1% autoritários.
Com relação às médias e frequências do
otimismo entre as crianças, os valores variaram entre -6 e +16, sendo a média das
meninas maior 2,93 (DP = 4,5). Tais
resultados foram muito baixos em comparação com os encontrados por Seligman, sendo
consideradas crianças muito pessimistas e indicando um alto risco de depressão.
Mas salienta-se que existe uma diferença cultural das amostras que pode
explicar essa distinção. Em continuidade, os autores encontraram uma correlação
significativa entre os estilos parentais e otimismo (F = 6,736; p = 0,000). Sobre
as dimensões, exigência e responsividade, o escore de otimismo esteve positivamente
relacionado a elas. Isto revela que crianças que percebem seus pais como mais
responsivos e mais exigentes são mais otimistas.
Outro aspecto importante dos resultados
é a correlação significativa negativa entre passividade e as dimensões do
estilo parental, indicando que quanto mais exigentes e responsivos, menores índices
de passividade e vice-versa, por sua vez, maiores índices de passividade
estiveram associados aos pais negligentes e os menores aos pais autoritativos. Portanto,
conclui-se que é importante continuar a estudar a relação entre estilos
parentais e o otimismo a fim de entender como se pode auxiliar sua promoção e seu desenvolvimento.
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