Optimism’s explicative role for chronic diseases

Postado por Ariane de Brito

Avvenuti, G., Baiardini, I., & Giardini, A.  (2016). Optimism’s explicative role for chronic diseases. Frontiers in Psychology. doi: 10.3389/fpsyg.2016.00295
           
            Na última década tem se buscado estudar o papel do otimismo no estado de saúde, bem como seu efeito modulador positivo sobre os resultados de saúde. O presente artigo buscou justamente avaliar as associações entre otimismo e estado de saúde a partir de uma mini revisão da literatura. Estudos que procuraram investigar o papel do otimismo no ajuste de doenças crônicas e em resultados de saúde, foram avaliados.
Segundo os autores, otimismo pode ser considerado como um traço ou faceta da personalidade e definido com base nas expectativas que as pessoas possuem sobre os eventos que ocorrerão futuramente em suas vidas. Isto é, otimistas são aqueles que esperam que coisas boas aconteçam a elas, são aqueles que visualizam os objetivos desejados como obtidos. No entanto, embora pesquisas em geral concordem sobre tal definição geral do otimismo, este construto foi conceituado de maneiras diferentes. Por exemplo, Tiger (1979) descreveu o otimismo como um humor ou um estado mental associado com a expectativa de um evento desejado no futuro. Já para Scheier e Carver (1985), otimismo é definido como uma tendência geral de esperar por experiências positivas no futuro, semelhante a um traço de personalidade. Desse modo, para os autores do presente artigo, o otimismo foi, então, teorizado como uma organização estável de afetos e cognições que pode moldar a relação entre as pessoas e a realidade, determinando a autopercepção e as expectativas.
Quanto as diferentes conceituações de otimismo, são discutidos no artigo algumas delas, como o otimismo irrealista e realista. O otimismo irrealista consiste num conjunto de mecanismos cognitivos (crenças inadequadas) que fazem a pessoa pensar, por exemplo, ser imune a ameaças de saúde. Trata-se de um excesso de confiança, que altera a vulnerabilidade percebida como um erro de julgamento, similar ao pensamento mágico das crianças. Por outro lado, o otimismo realista antecipa coisas boas que podem acontecer no futuro, mas levando em conta a informação contextual, ou seja, nesse caso, há um equilíbrio e a esperança, o valor e o esforço da meta são mantidos. Por essa razão, alguns autores consideram que o otimismo realista parece ser essencial para a saúde física e mental dos indivíduos.
Desse modo, o otimismo tem sido correlacionado com a saúde e os processos patológicos. Por um lado, se relaciona com o clima positivo, à perseverança e a resolução eficaz de problemas, para o sucesso pessoal, o bom estado de saúde e vida longa. Enquanto que por outro lado, o pessimismo estaria relacionado à depressão, distanciamento social, a morbidade e mortalidade. A seguir são apresentados resultados de estudos que verificaram a associação entre o otimismo e algumas condições de saúde, tais como, câncer, doenças cardiovasculares, insuficiência respiratória e no processo de envelhecimento com comorbidades múltiplas.
Sobre a relação entre otimismo e câncer, verificou-se, no geral, que o primeiro parece estar fortemente associado a respostas individuais ao segundo. Isto é, o otimismo tem contribuído para promover ajustamento emocional e comportamental, baixos níveis de ansiedade e depressão, tanto individualmente quanto relacional em pessoas com câncer. Outros achados revelaram que o otimismo inicial, avaliado no momento do diagnóstico, em pacientes com câncer previu sintomas menos depressivos e ansiosos, e que ele pode contribuir para a adaptação psicológica e aceitação da doença.
No contexto das doenças cardiovasculares, sabe-se que o otimismo pode influenciar indiretamente a saúde cardiovascular através dos comportamentos de saúde como tabagismo, hábitos alimentares, exercícios e adesão ao tratamento, farmacológico e/ou comportamental. Na metanálise realizada por Chida e Steptoe (2008) foi confirmado que o bem-estar psicológico positivo está associado à mortalidade cardiovascular reduzida em indivíduos saudáveis​. Outros resultados interessantes sobre o efeito do otimismo nesse contexto também foram mencionados, a saber, que o otimismo é um fator de proteção contra o acidente vascular cerebral (AVC) e que reduz as re-hospitalizações após cirurgia de revascularização cirúrgica do miocárdio (CRM). Além disso, influências indiretas do otimismo como promover o bem-estar e comportamentos de proteção subjetiva ao fomentar as expectativas positivas sobre os resultados futuros, também foram destacados pelos autores no artigo.
Estudos que verifiquem a relação entre otimismo e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ainda são escassos, no entanto, foram encontrados resultados que revelaram que o otimismo, além de aumentar a percepção subjetiva de bem-estar, pode estimular comportamentos de saúde, como a seguir programas de tratamento ou modificar hábitos de vida nesses pacientes.
No caso do envelhecimento com comorbidade múltipla, o otimismo juntamente com a autoeficácia estão correlacionados com um maior nível de qualidade de vida, independentemente das circunstâncias ambientais em que os idosos vivem. Dentre os achados, constatou-se que altos níveis de otimismo em homens idosos previram menos sentimentos de solidão, apesar dos eventos relacionados com o envelhecimento, tais como ameaças à saúde, luto, isolamento e perda de autonomia. O otimismo disposicional foi encontrado relacionado com uma melhor qualidade de vida e menos angústia emocional (ansiedade e depressão) em pacientes idosos (média de 68.4 anos) com a doença de Parkinson. Vale mencionar que o envelhecimento da população tem sido alvo de pesquisas em todo o mundo, as quais visam melhorar a média de anos de vida saudável e de qualidade de vida dessa população. Nesse sentido, os estudos sobre o otimismo podem auxiliar esse processo, fornecendo informações úteis que colaborem com tais melhorias.
Contudo, os autores destacam que a literatura sobre o papel protetor do otimismo sobre o estado de saúde é notável e é frequentemente caracterizada por uma metodologia sólida, com bom tamanho de amostra e acompanhamentos que variam de seis a 12 meses. Já sobre o papel explicativo do otimismo, nota-se que este construto pode estimular estratégias de enfrentamento adaptativas que promovem a busca de apoio social e, consequentemente, melhora o bem-estar subjetivo, podendo ainda promover diretamente comportamentos de saúde de proteção e isso pode influenciar também as respostas imunes e a modulação do sistema neuroendócrino. No entanto, novas investigações devem ser pensadas e executadas no sentido de ampliar os conhecimentos que já se têm até então, e esclarecer outras relações e mecanismos subjacentes dos efeitos preventivos do otimismo que ainda não estão claros. 


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