A vida em um mundo pós-pandemia: O que esperar das condições relacionadas à ansiedade e seu tratamento
Taylor, S., & Asmundson, G. J. G. (2020). Life in a post-pandemic world: What to expect of anxiety-related conditions and their treatment. Journal of Anxiety Disorders, 72, 102231. doi:10.1016/j.janxdis.2020.102231.
Resenhado por Michelle Leite
A pandemia do novo coronavírus está provocando uma série de perdas e eventos estressores de todos os tipos na vida das pessoas. Algumas perderam parentes próximos ou distantes, amigos, empregos e negócios. Outras passaram a ter dificuldades nos relacionamentos amorosos e romperam com seus parceiros devido ao estresse provocado pelo isolamento e dificuldades financeiras do casal. A perda da sanidade mental também
está nessa lista. Estima-se que 10% das pessoas irá desenvolver
problemas psicológicos, tais como transtornos de humor, de ansiedade e
estresse pós-traumático.
Uma
pesquisa realizada durante o surto de SARS, em 2003, atestou que 44%
dos participantes que sobreviveram à doença desenvolveram transtorno de
estresse pós-traumático (TEPT) e que em 82% destes, os sintomas
permaneceram de modo crônico por anos. O
TEPT parece ser mais severo em pessoas que tem maior ameaça de vida
percebida, menor suporte social e maior proximidade a parentes que
sofreram ou morreram de SARS. Na
atual pandemia, fatores de risco como quarentena prolongada em
acomodações não confortáveis, dividir o mesmo cômodo da casa com vários
integrantes, estar num relacionamento abusivo e ser profissional de saúde podem aumentar as chances de desenvolver sintomas de TEPT.
Outra condição que pode ser provocada pela atual pandemia é a Síndrome
de Estresse COVID. Essa síndrome é caracterizada pelo medo de se
infectar, medo de tocar as superfícies e os objetos que podem estar
contaminadas pelo novo coronavírus, xenofobia,
comportamento de verificação e busca de garantias relacionadas à COVID e
sintomas de estresse traumático como pensamentos intrusivos e pesadelos
relacionados ao novo coronavírus. Foi observado que pessoas com psicopatologia pré-existente, principalmente com altos níveis de ansiedade de saúde e sintomas obsessivos compulsivos, estão mais vulneráveis a desenvolver a síndrome de estresse COVID, seja de modo agudo ou crônico.
A hikikomori é
uma síndrome inicialmente limitada ao Japão, porém com potencial
crescimento em outras partes do mundo como um produto da pandemia de
COVID-19. É
definida como um afastamento social severo, no qual as pessoas se
tornam reclusas e relutantes em deixar seus aposentos por no mínimo 6
meses. A probabilidade do aumento das taxas de prevalência de hikikomori durante a atual pandemia deve-se ao fato das pessoas preocupadas com a saúde e com o risco de contaminação manterem-se reclusas em suas casas, onde teoricamente estarão seguras desse risco. Outrossim, tendências como o home office, compras em sites online e serviços de entrega em domicílio facilitam as práticas de isolamento social.
Por fim, os transtornos fóbicos, especialmente a fobia de germes,
também podem ser desencadeados de forma crônica pela covid-19. Esse
tipo de fobia é característico do transtorno obsessivo-compulsivo e
surge quando há a combinação entre a experiência traumática envolvendo
ameaça de infecção e fatores genéticos. Diante disso, o mundo pós-pandemia necessitará de recursos de saúde mental para tratar muitas pessoas que foram afetadas de forma significativa pelo
novo coronavírus, sejam aquelas com transtornos psicológicos
pré-existentes, e que foram maximizados, ou aquelas que desenvolveram tais condições de adoecimento mental como produto do COVID-19.
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