Transtorno da personalidade borderline: O que é, causas e tratamento
Leichsenring, F., Leibing, E., Kruse, J., New, A. S., & Leweke, F. (2011). Borderline personality disorder. The Lancet, 377(9759), 74-84.
Resenhado por Luiz Guilherme L. Silva.
O transtorno da personalidade borderline (TPB) é o mais comum transtorno da personalidade. É caracterizado por instabilidade na autoimagem, nos afetos e nos relacionamentos interpessoais, bem como notável impulsividade, risco de suicídio e comportamentos parassuicidas e
alta taxa de comorbidade com outros transtornos mentais. Esse
transtorno começa no início da vida adulta, tem estabilidade no decorrer
dos anos e seus sintomas são diminuídos com tratamento. Segundo a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o TPB é diagnosticado predominantemente em indivíduos do sexo feminino – cerca de 75%.
Apesar
de ser mais estável que o transtorno depressivo maior, o TPB parece ser
menos estável com o passar dos anos em relação ao que se espera dos
transtornos da personalidade. O TPB é frequentemente associado a transtornos do humor, de ansiedade e de abuso de substância. Apesar de não existir uma etiologia clara, pessoas
com TPB relatam muitos eventos negativos (abuso físico e sexual,
negligência, trauma, estupro) durante a infância e, muitas vezes, mais
eventos negativos do que pessoas com outros transtornos da
personalidade. Entretanto, não se identificou associações entre essas
experiências e o desenvolvimento de psicopatologias na vida adulta.
Desse modo, uma interação entre fatores biológicos – apesar de não ter sido identificado claramente um gene causador – e psicossociais – eventos adversos na infância – podem explicar melhor como o TPB desenvolve, sendo consistente com resultados de estudos referentes à interação gene/ambiente nesse transtorno.
A Associação Psiquiátrica Americana recomenda a psicoterapia como principal tratamento para o TPB. Diversos tipos de psicoterapia estão disponíveis para esse transtorno, sendo os mais efetivos a terapia comportamental dialética, terapia psicodinâmica, terapia do esquema e terapia cognitivo-comportamental. Como consequência, os efeitos da psicoterapia são estáveis no decorrer do tempo. A farmacoterapia pode auxiliar em três nichos de sintomas:
os sintomas perceptuais-cognitivos com o uso de neurolépticos, sintomas
afetivos com o uso de inibidores seletivos da recaptação de serotonina
(ISRS) e impulsividade com o uso de ISRS e neurolépticos. Entretanto,
poucas evidências foram encontradas para o tratamento de TPB com
farmacoterapia.
Por
meio de mudanças cognitivas e comportamentais, a Psicologia da Saúde
pode auxiliar as pessoas com TPB a desenvolver estratégias de
enfrentamento mais saudáveis, bem como tentar diminuir a frequência de
comportamentos autolesivos e suicidas. Destaca-se também a ênfase
em pesquisas futuras acerca da percepção dos sentimentos e cognições
nessas pessoas, uma vez que esses fatores podem auxiliar em intervenções
psicoterápicas mais eficazes. Vale ainda ressaltar o papel da
Psicologia da Saúde como um dos agentes capazes de reduzir o estigma presente em relação a pessoas com esse transtorno, tanto em ambientes clínicos como em outros espaços.
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