“Medo pandêmico” e COVID-19: Ônus e estratégias para a saúde mental
“Pandemic fear” and COVID-19: Mental health burden and strategies
Ornell, F., Schuch, J. B., Sordi, A. O., & Kessler, F. H. P. (2020). “Pandemic fear” and COVID-19: Mental health burden and strategies. Brazilian Journal of Psychiatry, 42(3), 232-235. doi: 10.1590/1516-4446-2020-0008
Resenhado por Geovanna Turri
Durante as pandemias, é comum que os profissionais de saúde e cientistas se concentrem no patógeno, no risco biológico, na compreensão dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos e nas propostas
para prevenir, conter e tratar a doença. Nessas situações, as
implicações psicológicas e psiquiátricas secundárias ao fenômeno, tanto
no nível individual quanto no coletivo, tendem a ser subestimadas e
negligenciadas, gerando lacunas nas estratégias de enfrentamento e
aumentando a carga de doenças associadas. Embora
as doenças infecciosas tenham surgido em vários momentos da história,
nos últimos anos, a globalização facilitou a disseminação de agentes
patológicos, resultando em pandemias em todo o mundo. Isso aumentou a
complexidade da contenção de infecções, que tiveram um importante
impacto político, econômico e psicossocial, levando a desafios urgentes de saúde pública.
A pandemia do coronavírus (COVID-19) se encaixa em tal contexto, tendo sido reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como uma situação que afeta todo o mundo.
Informações duvidosas ou até falsas sobre os fatores relacionados à
transmissão do vírus, o período de incubação, seu alcance geográfico, o
número de infectados e a taxa de mortalidade real levaram à insegurança e
ao medo na população. A situação foi agravada devido às medidas de
controle insuficientes e à falta de mecanismos terapêuticos efetivos. Para Ornell, Schich, Sordi e Keller (2020), essas incertezas tiveram consequências em vários setores, com implicações diretas no cotidiano e na saúde mental da população. Para os autores, é imprescindível entender as repercussões psicológicas e psiquiátricas de uma pandemia como essa, bem como as emoções envolvidas, como medo e raiva. O medo, por exemplo,
é um mecanismo de defesa animal adaptável, fundamental para a
sobrevivência e envolve vários processos biológicos de preparação para
uma resposta a eventos potencialmente ameaçadores. No entanto, quando é
crônica ou desproporcional, torna-se prejudicial e pode ser um
componente essencial no desenvolvimento de vários transtornos psiquiátricos. Em uma pandemia, o medo aumenta os níveis de ansiedade e estresse em indivíduos saudáveis e intensifica os sintomas psiquiátricos existentes.
Acredita-se que entre os grupos mais vulneráveis nas pandemias estão os adultos mais velhos, imunocomprometidos,
pacientes com condições clínicas e psiquiátricas prévias, familiares de
pacientes infectados e residentes de áreas de alta incidência. Nesses
grupos, rejeição social, discriminação e até xenofobia são frequentes. Assim sendo, o fornecimento de primeiros socorros psicológicos é um componente de assistência essencial para populações vítimas de emergências e desastres, mas não existem protocolos ou diretrizes universais para as práticas de apoio psicossocial mais eficazes. Desse modo, é preciso
implementar ações preventivas e emergenciais eficazes, voltadas para as
implicações psiquiátricas dessa pandemia biológica em amplas esferas da
sociedade. A psicologia da saúde, bem como os profissionais de saúde mental como psicólogos, deve estar na linha de frente e atuar junto a liderança das equipes de planejamento e gerenciamento de emergências. Além disso, é necessário investir em pesquisas e ações estratégicas para a saúde mental, paralelamente a surtos infecciosos.
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