Estratégias de enfrentamento de mulheres vítimas de violência doméstica: uma revisão da literatura brasileira
Coping strategies of women victim of domestic violence: a review of Brazilian literature
Souza, M. B., & Silva, M. F. S. (2019). Estratégias de enfrentamento de mulheres vítimas de violência doméstica: uma revisão da literatura brasileira. Pensando famílias, 23(1), 153-166.
Resenhado por Millena Bahiano
Muitas mulheres são vítimas de vários tipos de agressões verbais, físicas ou sexuais cometidos por parceiros (as), familiares, amigos ou desconhecidos no decorrer de suas vidas. As maiores dificuldades encontradas pelas vítimas, que sofrem alguma forma de violência, é de falar a respeito da situação, não ter conhecimento ou não perceber os atos como violência doméstica. Tais fatores contribuem para a procura tardia por ajuda, o que dificulta o rompimento dos episódios de violência e consequentemente o processo de mudança, além de aumentar a probabilidade de reincidência das agressões e favorecer a manutenção da situação adversa ocasionando inúmeros danos físicos e psicológicos a vítima.
Esta pesquisa se trata de uma revisão integrativa da literatura, cujo objetivo foi identificar as estratégias de enfrentamento utilizadas por mulheres que sofreram algum tipo de violência doméstica. O estudo teve como base a seguinte pergunta norteadora: Quais os recursos utilizados pelas vítimas no processo de enfrentamento? Para tanto, realizaram-se buscas nas bases de dados Scielo e PePSIC entre os anos de 2012 a 2016. Ao todo foram encontrados 35 artigos que, após um processo de análise e triagem dos estudos primários, apenas 11 artigos foram selecionados por atenderem aos critérios de inclusão:
ser estudo empírico, apresentar os instrumentos utilizados para coleta
de dados e abordar estratégias de enfretamento utilizadas pelas vítimas
de violência doméstica.
Dentre os resultados, observou-se que muitas mulheres perceberam a sua existência sem sentido e esperança dada a ocorrência de episódios de violência que ocasionam por sua vez a destruição da família ou da própria vida. Somente diante do comportamento de violência extrema, a vítima conseguiu romper o estado de imobilidade causador de medo, angústia, sofrimento e dor, e com isso dar início ao processo de enfrentamento às adversidades. O estudo evidenciou que as vítimas fizeram uso de estratégias individuais e/ou buscaram a ajuda das redes de apoio na tentativa de solucionar ou minimizar novas situações de violência. Algumas mulheres elaboraram estratégias de enfrentamento a partir da avaliação da situação, como exemplo, procurar por pessoas (familiares, amigos e vizinhos), igrejas e/ou serviços de apoio diante de uma agressão extrema e/ou com ameaça de morte.
Os autores pontuaram que as mulheres vítimas de violência doméstica referiram à importância de ter alguém em quem pudessem confiar, ouvi-las e acolhê-las nos serviços de saúde. Os vínculos sociais estabelecidos permitiram às mulheres se sentirem amparadas e isso foi fundamental para o fortalecimento da vítima. Ademais, a compreensão da necessidade de serviços com atenção específica na saúde mental é significativamente importante para as mulheres em situação de violência. Por fim, compreende-se que diante do impacto da violência, de qualquer natureza, a atenção psicológica voltada a essas mulheres favorece a ruptura do ciclo de agressões sofridas e o resgate da integridade pessoal. É imprescindível a articulação de estratégias que visem a minorar os conflitos causados pelo evento estressor e favorecer novas formas de enfrentamento.
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