COVID-19 e Solidão: Podemos fazer algo sobre isso?
Traduzido e adaptado por Daiane Nunes
A
COVID-19 vem modificando muitas vivências cotidianas, dentre elas, o
modo como as pessoas percebem a solidão. A solidão sempre esteve
atrelada a interpretação negativa de experiências sociais. Para muitos, estar sozinho pode significar que ninguém deseja estar perto de você ou que não se é bom o suficiente para estar rodeado de pessoas. Portanto, a solidão sempre foi profundamente estigmatizada e pouco se falava sobre ela. No entanto, a COVID-19 trouxe a temática para um lugar de destaque, passando a ser uma queixa comum e a ser abordada mais abertamente. Atualmente, em decorrência da pandemia, estar sozinho não é interpretado, necessariamente, como uma fraqueza ou deficiência.
Para entendermos melhor a solidão e sermos capazes de lidar melhor com ela, certos conceitos precisam ser esclarecidos. A
solidão não se trata de um sentimento, mas de uma experiência que tem
dimensões emocionais e cognitivas. Essa experiência, na maioria das
vezes, para a maioria das pessoas, é
dolorosa e angustiante e, o modo como a percebemos é influenciado por
aspectos da personalidade, história de vida e variáveis situacionais. A
solidão pode ser diferenciada entre reativa e essencial. A solidão
reativa é aquela solidão
ocasional, que pode ser consequência da perda de uma pessoa
significativa ou uma grande interrupção na vida, como mudar para outra
cidade ou se separar de um ente querido. A solidão essencial está
associada a aspectos de nossa personalidade e, provavelmente, é
resultado de experiências com os cuidadores diretos.
A experiência que denominamos solidão é construída a partir de cinco dimensões. A primeira e mais importante delas é o sofrimento emocional que sentimos quando estamos sozinhos. A segunda dimensão decorre da percepção de inadequação social e alienação experimentada a partir da preocupação de não estar sendo bom o suficiente. A terceira é o isolamento interpessoal marcado por pensamentos como “não sou amado por ninguém, não tenho um relacionamento íntimo ou romântico significativo e, basicamente, não sou importante”. A autoalienação (quarta dimensão) reflete
a sensação do corpo separado da mente que, na verdade, trata-se de um
mecanismo de defesa para impedir de sentir a dor provocada pela solidão.
Por fim, a dimensão crescimento e descoberta que se referem à percepção positiva da experiência, como a capacidade de perceber que temos mais recursos para lidar com uma situação difícil do que pensávamos, uma nova apreciação dos outros e das relações interpessoais e uma compreensão mais clara de nós mesmos e do nosso mundo.
Tem
sido comum reclamações sobre solidão devido ao isolamento social
imposto pela COVID-19 e muitos tem questionado sobre a melhor maneira
para lidar com ela. O primeiro passo é entender a diferença entre solidão e solitude, ou seja, que estar sozinho não precisa ser interpretado como solidão. Para
alguns, essa tendência de perceber negativamente a experiência de estar
sozinho já persistia antes da pandemia e, provavelmente, persistirá
quando as medidas de isolamento forem flexibilizadas. A psicoterapia é uma ferramenta crucial para ajudar esses indivíduos. Outro passo importante é realizar atividades que auxiliem na recuperação do senso de controle sobre o que nos afeta e afeta nossas relações interpessoais. Para tanto, entender
que a intimidade não está unicamente ligada ao contato físico pode
ajudar a minimizar a angústia associada ao distanciamento social.
Por
fim, destaca-se que a humanidade está vivenciando um momento sem
precedentes e é esperado que as pessoas estejam interpretando a
experiência de isolamento social como solitária e carregada de
sofrimento emocional. Cabe à Psicologia da Saúde a incumbência de
entender como isso tem impactado a capacidade adaptativa das pessoas diante das demandas desse contexto, a fim de orientar a prática de psicólogos e outros profissionais da saúde.
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