Desfechos do transtorno obsessivo-compulsivo em longo prazo: Acompanhamento de 142 crianças e adolescentes


Micali, N., Heyman, I., Perez, M., Hilton, K., Nakatani, E., Turner, C., & Mataix-Cols, D. (2010). Long-term outcomes of obsessive–compulsive disorder: Follow-up of 142 children and adolescents. The British Journal of Psychiatry, 197(2), 128-134.

Resenhado por Luanna Silva

 

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é uma condição crônica, frequentemente iniciada na infância. Crianças e adolescentes que apresentam esse diagnóstico têm taxas de persistência de sintomas mais elevadas e mais chances de desenvolver outros quadros psiquiátricos, como transtornos de ansiedade e de humor. Apesar dessas evidências, pouca atenção é direcionada para o curso a longo prazo do TOC pediátrico e as suas consequências na vida adulta. Entende-se que compreender melhor a história natural e os resultados psiquiátricos e sociais a longo prazo nesse transtorno, pode ser útil tanto para profissionais quanto para as crianças e adolescentes com TOC e suas famílias.

Diante disso, este estudo objetivou acompanhar uma coorte de crianças diagnosticadas com TOC, durante o período de julho de 1996 a junho de 2005. A pesquisa foi realizada em Londres e contou com 142 participantes, sendo a maioria do gênero masculino (88, 6%). O tempo médio entre a avaliação inicial e follow up foi de 5,1 anos (DP = 2,70). A média de idade dos participantes na etapa de avaliação inicial da pesquisa foi de 13,2 anos (DP = 2,60) e na fase de follow up foi de 18,6 anos (DP = 3,50). Na avaliação inicial foi utilizado o Children’s Yale-Brown Obsessive Compulsive Scale (CY-BOCS) para medir o impacto e a gravidade do TOC e o Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ) foi administrado como uma medida geral dos sintomas emocionais e comportamentais da infância. Na etapa de follow up foi aplicado aos pais e crianças o Developmental and Well-Being Assessment (DAWBA) a fim de investigar a presença e severidade de outros transtornos psiquiátricos. Além disso, as crianças responderam ao Patient’s Global Impression (PGI) que avalia a percepção do paciente sobre a severidade da doença, o Work and Social Adjustment Scale (WSAS) que investiga o prejuízo na funcionalidade em diferentes áreas da vida e novamente o CY-BOCS. Dados demográficos e clínicos relevantes também foram obtidos.

Os resultados mostraram que 60% dos participantes diagnosticados com TOC na etapa inicial do estudo não apresentavam quadro clínico completo no follow up. As taxas de persistência dos sintomas foram de 41%, com apenas um terço dos respondentes demonstrando sintoma moderado ou grave. Aproximadamente dois terços dos participantes se classificaram como melhor ou muito melhor em relação aos seus sintomas. O principal preditor para a persistência do TOC foi o tempo de duração do transtorno. Adicionalmente, observou-se que 70% dos respondentes apresentavam um outro diagnóstico psiquiátrico, sendo os transtornos de ansiedade identificados como os mais frequentes. Notou-se que os níveis de comprometimento funcional dos respondentes na fase de follow up foram leves, sugerindo que estavam desempenhando de modo satisfatório suas funções em diferentes áreas da vida. Por fim, aproximadamente 50% dos participantes ainda estavam recebendo tratamento, sendo o tratamento farmacológico o mais comum. No entanto, a maioria dos pacientes expressaram a necessidade de realizar psicoterapia.

Os achados deste estudo demonstram que o TOC pode ser uma condição que persiste na vida adulta, mas que é possível se adaptar à doença, ainda que seja necessário conviver com os sintomas. Ademais, evidenciou-se a importância do reconhecimento e tratamento precoce para prevenir a cronicidade do transtorno. As informações obtidas através de estudos longitudinais como esse podem auxiliar no desenvolvimento e melhoria dos serviços prestados, sendo importante que sejam desenvolvidos trabalhos dessa natureza na área da Psicologia da Saúde.



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